domingo, 5 de outubro de 2008

Pense...

Questões Morais/ Filosóficas

1-A Filosofia dos Animais. (Tom Regan)

Os outros animais que os humanos comem, usam na ciência, caçam, apanham em armadilhas, e exploram da mais variadas formas, tem uma vida própria que é importante para eles independentemente da utilidade deles para nós. Eles não estão apenas no mundo, eles têm consciência disso. O que lhes acontece tem importância para eles. Cada um tem uma vida que pode correr melhor ou pior.
Essa vida inclui uma série de necessidades biológicas, individuais, e sociais. A satisfação destas necessidades é uma fonte de prazer, a sua frustração ou abuso, uma fonte de sofrimento. Nestes aspectos fundamentais, os animais não humanos em laboratórios e em quintas, por exemplo, são o mesmo que os seres humanos. E assim sendo, a ética do nosso relacionamento com eles, e com outros humanos, deve reconhecer os mesmos princípios morais fundamentais.
No seu nível mais profundo, a ética humana é baseada no valor independente de cada indivíduo: O valor moral de qualquer ser humano não deve ser medido pela utilidade que essa pessoa tem para satisfazer os interesses de outros seres humanos. Tratar seres humanos de maneira a não honrar o seu valor independente é violar o mais básico dos direitos humanos: o direito de cada pessoa a ser tratada com respeito.
A filosofia dos direitos dos animais exige apenas que a lógica seja respeitada. Pois qualquer argumento que explique de forma plausível o valor independente dos seres humanos, implica que outros animais têm este mesmo valor, e têm-no de forma igual. E qualquer argumento que explique de forma plausível o direito dos humanos a serem tratados com respeito, também implica que estes outros animais têm este mesmo direito, e têm-no de forma igual, também.
É verdade, por conseguinte, que as mulheres não existem para servir os homens, os negros para servir os brancos, os pobres para servir os ricos, ou os fracos para servir os fortes. A filosofia dos direitos dos animais não só aceita estas verdades, como insiste nelas e justifica-as.
Mas esta filosofia vai mais longe. Ao insistir e justificar o valor independente e os direitos de outros animais, ela fornece, de forma cientificamente informada e moralmente imparcial, razões para negar que esses animais existem para nos servir.
Uma vez que esta verdade seja reconhecida, é fácil compreender porque razão a filosofia dos direitos dos animais é inflexível na sua resposta a toda e qualquer injustiça a que os outros animais são sujeitos.
Não são jaulas mais limpas e maiores que a justiça exige no caso dos animais usados na ciência, por exemplo, mas jaulas vazias; não é voltar à criação “tradicional” de gado, mas o fim completo de todo o comércio de carne de animais mortos; não é caça e armadilhas mais “humanas”, mas a total erradicação destas práticas bárbaras.
Pois quando uma injustiça é absoluta, devemo-nos opor em absoluto. Não era uma escravatura “reformada” que a justiça exigia, nem trabalho infantil “reformado”, nem subjugação da mulher “reformada”. Em cada um destes casos, abolição era a única resposta moral. Simplesmente reformar a injustiça é prolongar a injustiça.
A filosofia dos direitos dos animais exige esta mesma solução - abolição - em resposta à injusta exploração de outros animais. Não são os detalhes da exploração injusta que devem ser alterados. É a exploração injusta ela própria que deve ser terminada, quer seja na quinta, no laboratório, ou no meio da floresta, por exemplo. A filosofia dos direitos dos animais não pede nada mais, mas tão pouco se contentará com nada menos.

2 - 10 razões PELOS direitos dos animais e a sua explicação

1. A filosofia dos direitos dos animais é racional

Explicação: Não é racional descriminar de forma arbitrária. E discriminar contra animais não humanos é arbitrário. É errado tratar os seres humanos mais fracos, especialmente aqueles a quem falta a inteligência humana normal, como “ferramentas” ou “fontes renováveis” ou “modelos para testes” ou “mercadorias”. Não pode ser correcto, por conseguinte, tratar outros animais como se eles fossem “ferramentas”, “modelos” ou algo semelhante, se a sua psicologia é tão rica (ou mais rica) do que a destes humanos. Pensar de outro modo é irracional.

“Descrever os animais como um sistema psicológico e químico de extrema complexidade é sem dúvida perfeitamente correcto, excepto que ignora a “essência” do animal” - E.F. Schumacher

2.A filosofia dos direitos dos animais é científica

Explicação: A filosofia dos direitos dos animais respeita a nossa melhor ciência em geral e a biologia evolucionária em particular. A última ensina que, nas palavras de Darwin, os humanos diferem de muitos outros mamíferos em “grau”, não em “natureza”. Quanto ao traçar do risco para um dos lados, é óbvio que os animais usados em laboratórios, criados para alimentação, e caçados por prazer ou apanhados em armadilhas pelo lucro, por exemplo, são o nosso parente psicológico. Isto não é nenhuma fantasia, é um facto, provado pela nossa melhor ciência.

“Não existe nenhuma diferença fundamental entre os humanos e os mamíferos superiores nas suas capacidades mentais” - Charles Darwin

3.A filosofia dos direitos dos animais é despreconceituosa

Explicação: Racistas são pessoas que pensam que os membros da sua raça são superiores aos membros de outras raças simplesmente porque os primeiros pertencem à sua raça (a “superior”). Sexistas acreditam que os membros do seu sexo são superiores aos membros do sexo oposto simplesmente porque os primeiros pertencem ao seu sexo (o “superior”). Tanto o racismo como o sexismo são paradigmas de preconceitos insustentáveis. Não existe nenhuma raça ou sexo “superior” ou “inferior”. As diferenças raciais e sexuais são diferenças biológicas e não morais.
O mesmo é verdade para o especismo - a visão de que os membros da espécie Homo Sapiens são superiores aos membros de todas as outras espécies apenas porque os seres humanos pertencem à nossa própria espécie (a “superior”). Pois não existe nenhuma espécie superior. Pensar de outro modo é ser não menos preconceituoso do que os sexistas ou os racistas.

“Se consegues justificar a matança para comer carne, consegues justificar as condições de vida nos guetos. Eu não consigo justificar nenhuma das coisas.” - Dick Gregory

4.A filosofia dos direitos dos animais é justa

Explicação: A justiça é o mais elevado princípio da ética. Não vamos permitir ou cometer injustiças para que algum bem possa daí resultar, não vamos violar os direitos de alguns para que muitos possam beneficiar. A escravidão permitia-o. O trabalho infantil permitia-o. A maioria dos exemplos de injustiça social permitem-no. Mas não a filosofia dos direitos dos animais, cujo mais elevado princípio é o da justiça: Ninguém tem o direito de beneficiar em resultado da violação dos direitos de outro, quer esse “outro” seja um ser humano ou algum outro animal.

“As razões para uma intervenção da justiça em favor das crianças aplicam-se de forma não menos forte ao caso desses infelizes escravos - os (outros) animais.” - John Stuart Mill

5.A filosofia dos direitos dos animais é compassiva

Explicação: Uma vida humana completa exige sentimentos de empatia e simpatia - numa palavra, compaixão - pelas vítimas de injustiça - quer as vítimas sejam humanos ou outros animais. A filosofia dos direitos dos animais apela à virtude da compaixão, e a sua aceitação acarinha o crescimento dessa mesma virtude. Esta filosofia é, nas palavras de Abraham Lincoln, “o caminho de um ser humano completo”.

“Compaixão na acção pode ser a gloriosa possibilidade que poderia proteger o nosso planeta superpopulado e poluído.” - Victoria Moran

6.A filosofia dos direitos dos animais é generosa

Explicação: A filosofia dos direitos dos animais exige um compromisso para servir aqueles que são fracos e vulneráveis - aqueles que, quer sejam humanos ou outros animais, não têm a capacidade de falar por eles próprios ou de se defenderem, e que se encontram necessitados de protecção contra a ganância e a insensibilidade. Esta filosofia requer este compromisso, não porque seja do nosso melhor interesse faze-lo, mas porque é correcto faze-lo. Por conseguinte esta filosofia apela à generosidade e o seu acolhimento acarinha o crescimento do serviço altruísta.

“Nós precisamos de uma filosofia moral na qual o conceito de amor, agora tão raramente mencionado pelos nossos filósofos, possa de novo ser um ponto fulcral.” - Iris Murdoch

7.A filosofia dos direitos dos animais é individualmente recompensadora

Explicação: Todas as grandes tradições em ética, tanto as seculares como as religiosas, dão ênfase à importância de quatro aspectos: conhecimento, justiça, compaixão, e autonomia. A filosofia dos direitos dos animais não é excepção. Esta filosofia ensina que as nossas escolhas devem ser baseadas no conhecimento, devem expressar justiça e compaixão, e devem ser tomadas livremente. Não é fácil atingir estas virtudes, ou controlar a inclinação humana para a ganância e a indiferença. Mas uma vida humana completa é impossível sem elas. A filosofia dos direitos dos animais apela a uma realização pessoal do indivíduo, e a sua aceitação acarinha o crescimento dessa mesma realização pessoal.

“A humanidade não é um preceito externo morto, mas um impulso vivo cá de dentro; não auto-sacrifício, mas realização pessoal” - Henry Salt

8.A filosofia dos direitos dos animais é socialmente inovadora

Explicação: O maior impedimento à prosperidade da sociedade humana é a exploração de outros animais às mãos dos humanos. Isto é verdade no caso das dietas prejudiciais à saúde, na confiança que a ciência deposita no “modelo animal”, e nas muitas outras formas que a exploração animal toma. E não é menos verdade no ensino e na publicidade, por exemplo, que ajudaram a entorpecer a mente humana para as exigências de razão, imparcialidade, compaixão, e justiça. Sob todas estas formas (e mais), as nações permanecem profundamente retrogradas pois falham na tarefa de servir os verdadeiros interesses dos seus cidadãos.

“A grandiosidade de uma nação e o seu progresso moral podem ser medidos pela forma como os seus animais são tratados.” - Mahatma Gandhi

9.A filosofia dos direitos dos animais é ambientalmente sensata

Explicação: As maiores causas da degradação ambiental, incluindo o efeito de estufa, poluição das águas, a perda de terra arável e terrenos férteis, por exemplo, têm a sua origem na exploração animal. Este mesmo padrão repete-se ao longo do vasto número de problemas ambientais, desde a chuva ácida e o despejo de lixos tóxicos nos mares, até à poluição do ar e destruição do habitat natural. Em todos estes casos, agir para proteger os animais afectados (que são afinal de contas os primeiros a sofrer e a morrer devido a estes problemas ambientais), é agir para proteger a terra.

“Até que estabeleçamos uma sentida relação de afinidade entre a nossa própria espécie e aqueles companheiros mortais que compartilham conosco o sol e a sombra da vida neste agonizado planeta, não há qualquer esperança para as outras espécies, não há qualquer esperança para o ambiente, e não há qualquer esperança para nós próprios.” - Jon Wynne-Tyson

10.A filosofia dos direitos dos animais é pacifista

Explicação: A exigência fundamental da filosofia dos direitos dos animais é tratar humanos e outros animais com respeito. Faze-lo requer que não causemos sofrimento a ninguém apenas para que nós próprios ou outros possam beneficiar. É uma filosofia de paz. Mas é uma filosofia que alarga o apelo à paz para além das fronteiras da nossa espécie. Pois existe uma guerra, que se trava todos os dias, contra incontáveis milhões de animais não humanos. Lutar verdadeiramente pela paz é erguer-se firmemente contra o especismo. É uma ilusão acreditar que pode haver “paz na terra” se não conseguimos trazer paz à nosso relação com os outros animais.

“Se por algum milagre, em toda a nossa luta a terra for poupada ao holocausto nuclear, apenas justiça para todos os seres vivos salvará a humanidade.” - Alice Walker


3 - 10 razões CONTRA os Direitos dos Animais e as respectivas respostas


1.Tu estás a igualar animais e humanos, quando, na realidade, os humanos e os animais diferem grandemente

Resposta: Nós não afirmamos que os humanos e os animais sejam iguais em todos os aspectos. Por exemplo, nós não estamos a dizer que os cães ou os gatos possam resolver problemas matemáticos, ou que os porcos e as vacas possam apreciar poesia. Aquilo que nós estamos a dizer é que, tal como os humanos, muitos outros animais são seres psicológicos, com uma experiência própria de bem-estar. Neste sentido, nós e eles somos análogos. Neste sentido, portanto, e apesar das nossas muitas diferenças, nós e eles somos iguais.

“Todos os argumentos para provar a superioridade do homem não conseguem destruir este rude facto: no sofrimento, os animais são iguais a nós.” - Peter Singer

2.Tu estás a dizer que cada humano e cada outro animal tem os mesmos direitos, o que é absurdo. As galinhas não podem ter o direito de votar, tão pouco podem os porcos ter direito a uma educação superior

Resposta: Nós não estamos a dizer que os humanos e os outros animais têm sempre os mesmos direitos. Nem sequer todos os seres humanos têm os mesmos direitos. Por exemplo, pessoas com incapacidades mentais graves não têm direito a uma educação superior. Aquilo que nós estamos a dizer é que estes e outros humanos partilham um direito moral básico com os outros animais - nomeadamente, o direito a serem tratados com respeito.

“É o destino de cada verdade ser objecto de ridículo quando é inicialmente aclamada” - Albert Schweitzer

3.Se os animais têm direitos, então também os vegetais têm, o que é absurdo

Resposta: Muitos animais são como nós: têm um bem-estar psicológico deles próprios. Tal como nós, por conseguinte, esses animais têm o direito a serem tratados com respeito. Por outro lado, nós não temos nenhum motivo, e certamente nenhum motivo científico, para acreditar que cenouras e tomates, por exemplo, tragam uma presença psicológica ao mundo. Tal como todos os outros vegetais, as cenouras e os tomates, não têm nada que se assemelhe a um cérebro ou a um sistema nervoso central. Uma vez que lhes faltam estas características, não há qualquer razão para pensar nos vegetais como seres psicológicos, com a capacidade para sentir dor e prazer, por exemplo. É por estas razões que se pode racionalmente defender os direitos no caso dos animais e negá-los no caso dos vegetais.

“O caso pelos direitos dos animais depende apenas da necessidade de senciência.” - Andrew Linzey

4.Onde é que tu traças o risco? Se os primatas e os roedores têm direitos, então também as lesmas e as amebas têm direitos, o que é absurdo.

Resposta: Muitas vezes não é fácil saber exactamente onde “traçar o risco”. Por exemplo, nós não podemos dizer exactamente que idade precisa uma pessoa de ter para ser idosa, ou que altura alguém tem de ter para ser alto. Contudo, nós podemos dizer, com certeza, que alguém que tem 88 anos é idoso, e que outra pessoa com 2,15 metros de altura é alta. De modo similar, nós não podemos traçar uma linha no que respeita a dizer quais são os animais que possuem uma psicologia. Mas podemos dizer com absoluta certeza, que onde quer que se desenhe a linha com bases cientificas, os primatas e os roedores estão de uma lado (o lado psicológico), enquanto que lesmas e amebas estão do outro lado - o que não significa que nós as possamos destruir irreflectidamente.

“Nas relações dos humanos com os animais, com as flores, e com todos os objectos da criação, existe uma grandiosa ética ainda vagamente reconhecida.” - Victor Hugo

5.Mas certamente há alguns animais que podem sentir dor mas que não possuem uma identidade psicológica unificada. Uma vez que estes animais não têm o direito a ser tratados com respeito, a filosofia dos direitos dos animais implica que nós os podemos tratar como nos apetecer

Resposta: É verdade que alguns animais, tais como as lagostas e bivalves, podem ser capazes de sentir dor mas no entanto não possuem a maioria das outras capacidades psicológicas. Se isto é verdade, então eles não terão alguns dos direitos que os outros animais têm. Contudo, não pode haver qualquer justificação moral para causar dor a quem quer que seja, se isso for desnecessário. E uma vez que não é necessário que os humanos comam lagosta, bivalves, e animais semelhantes, ou que os utilizem de outras formas, não pode existir qualquer justificação moral para lhes causar o sofrimento que inevitavelmente advém dessa utilização.

“A questão não é, “Podem eles racionalizar?” nem “Podem eles falar?” mas “Podem eles sofrer?”” - Jeremy Bentham

6.Os animais não respeitam os nossos direitos logo os humanos também não têm qualquer obrigação de respeitar os deles.

Resposta: Existem muitas situações nas quais um indivíduo que tem direitos não é capaz de respeitar os direitos de outros. Isto é verdade para bebés, crianças pequenas, e seres humanos mentalmente debilitados ou com perturbações mentais. No caso deles nós não dizemos que é correcto tratá-los desrespeitosamente porque eles não honram os nossos direitos. Pelo contrário, nós reconhecemos que temos o dever de os tratar com respeito, apesar de eles não terem qualquer dever de nos tratar da mesma forma.
Aquilo que é verdade nos casos de bebés, crianças, e dos outros humanos referidos, não é menos verdade nos casos que envolvem animais, reconhecidamente, estes animais não têm o dever de respeitar os nossos direitos. Mas isto não elimina ou diminui a nossa obrigação de respeitar os deles.

“O tempo chegará em que pessoas tais como eu olharão para o assassinato de (outros) animais da mesma forma que olham para o assassinato de humanos.” - Leonardo Da Vinci

7.Deus deu aos humanos domínio sobre os animais. É por isso que nós lhes podemos fazer o que quisermos, incluindo come-los.

Resposta: Nem todas as religiões apresentam os humanos como tendo domínio sobre os animais, e mesmo entre aquelas que o fazem, a noção de domínio deve ser entendida como uma protecção não egoísta dos animais, e não como uma autoridade egoísta. Os humanos devem amar toda a criação do mesmo modo que Deus fez ao criá-la. Se nós amassemos os animais hoje da mesma forma que os humanos os amavam no Jardim do Éden, nós não os comeríamos. Aqueles que respeitam os direitos dos animais estão embarcados numa viagem de regresso ao Éden - uma viagem de volta ao amor devido a toda a criação de Deus.

“E Deus disse, Contemplai, Eu vos dei todas as ervas com semente que existem à superfície da terra, e todas as árvores de fruto, nas quais o fruto contém a própria semente; isto será o vosso alimento.” - Génesis 1:29

8.Apenas os humanos têm almas imortais. Isto dá-nos o direito de tratar os outros animais como nos apetecer.

Resposta: Muitas religiões ensinam que todos os animais, não apenas os humanos, têm almas imortais. Contudo, mesmo que apenas os humanos sejam imortais, isto apenas provaria que nós vivemos para sempre enquanto os outros animais não. E este facto (se for um facto) aumentaria, não diminuiria, a nossa obrigação de assegurar que esta - a única vida que os outros animais têm - seja tão longa e tão boa quanto possível.

“Não existe nenhuma religião sem amor, e as pessoas podem falar tanto quanto queiram acerca da sua religião, mas se isso não lhes ensina a serem bons e caridosos para os outros animais tal como para os humanos, tudo não
passa de uma fraude.” - Anna Sewell

9.Se nós respeitarmos os direitos dos animais, e não os comermos ou explorarmos de outras formas, então o que é suposto fazermos com todos eles? Num curto espaço de tempo eles invadirão as nossas ruas e as nossas casas.

Resposta: Qualquer coisa como 4 a 5 mil milhões de animais são criados e massacrados para alimentação humana todos os anos, apenas nos Estados Unidos. O motivo para este número surpreendente é simples: há consumidores que consomem grandes quantidades de carne animal. O fornecimento de carnes de animais vai de encontro às necessidades dos compradores.
Quando a filosofia dos direitos dos animais triunfar, contudo, e as pessoas se tornarem vegetarianas, nós não precisamos de recear que hajam milhões de vacas e de porcos a pastar no centro das nossas cidades ou nas nossas salas de estar. Uma vez que o incentivo monetário para a criação de milhares de milhões destes animais se evapore, simplesmente não existirão milhões destes animais. E o mesmo raciocínio se aplica noutros casos - no caso dos animais criados para pesquisa científica, por exemplo. Quando a filosofia dos direitos dos animais prevalecer, e este uso destes animais terminar, então o incentivo financeiro para os criar aos milhões terminará também.

“O pior pecado contra as criaturas nossas companheiras, não é odiá-las mas ser-lhes indiferente. Essa é a essência da inumanidade.” - George Bernard Shaw

10.Ainda que os outros animais tenham direitos morais e devam ser protegidos, há coisas mais importantes que precisam da nossa atenção - a fome mundial, e o abuso de crianças, por exemplo, o apartheid, as drogas, a violência contra as mulheres, e a condição dos sem abrigo. Depois de tratarmos destes problemas, podemos então preocuparmo-nos com os direitos dos animais.

Resposta: O movimento dos direitos dos animais, ergue-se como uma parte de, e não à parte, do movimento dos direitos humanos. A mesma filosofia que insiste nos direitos dos animais não humanos e os defende, também insiste nos direitos dos seres humanos e os defende.
Em termos práticos, além do mais, a escolha que as pessoas enfrentam não é entre ajudar humanos ou ajudar animais. Podemos fazer ambas as coisas. As pessoas não precisam de comer animais para ajudar os sem abrigo, por exemplo, tal como não precisam de usar cosméticos que foram testados em animais para ajudar as crianças. De facto, as pessoas que respeitam os direitos dos animais não humanos, ao não os comerem, serão mais saudáveis, caso em que terão mais capacidades para ajudar seres humanos.

“Eu sou a favor dos direitos dos animais tal como dos direitos humanos. Esse é o caminho de um ser humano completo” - Abraham Lincoln

tradução livre por Miguel Saturnino http://www.pelosanimais.com/?page=animal_rights_1.php

4 - O problema da alimentação EDUCAÇÃO E ÉTICA Mandy Kritz

Anualmente, milhões de animais são criados em confinamento para engordarem, depois transportados por longos percursos e finalmente abatidos de forma cruel. Entretanto, na hora de consumir um bife suculento ou uma coxinha de frango crocante a maioria das pessoas não quer ouvir falar nisso. "Carne contém nutrientes importantes que o ser humano necessita. Não podemos comer apenas hortaliças, precisamos de tudo um pouco. E isso inclui carne". Muitas vezes são comentários como este que os vegetarianos escutam de amigos que julgam saber tudo melhor, embora poucos tenham se informado sobre questões de alimentação e saúde.
Cada um tenta defender suas ações, pois cada um está convencido de que a sua é a maneira correta de viver. Assim também agem os carnívoros entre os seres humanos. Será porém, que é justo comer carne?
Responder a esta pergunta com um simples sim ou não é impossível, pois certamente depende das circunstâncias em que cada um vive. As pessoas que vivem na Antártica, por exemplo, dificilmente podem adotar uma alimentação exclusivamente vegetariana. Outras pessoas, principalmente nos países ricos e industrializados, dispõe de grande variedade de alimentos vegetarianos, com que as necessidades de elementos vitais e vitaminas podem ser supridas sem maior problema. São essas pessoas que não têm justificativa para comer carne! Existem inúmeros vegetarianos no mundo todo, com ótima saúde física comprovando que a carne não é necessária para o ser humano.
Como é possível que tantas pessoas não reconhecem este fato e continuam comendo animais? Claramente esta é uma questão educacional. Ensinamos para as crianças pequenas que devem gostar dos animais e que não devem machucá-los. Mostraram livrinhos com coelhos, vacas e gatos. Apresentamos como objetos de estimação. Por outro lado as crianças recebem carne para comer. Quando a criança não come, leva bronca. Nem sabia direito o que estava comendo. E justamente aqui que está a crueldade, o crime, o engodo: as crianças não comem apenas cenouras ou verduras. Não! Comem, sem saber também, seus amiguinhos — os animais. Elas comem os seus amigos, porque os pais assim o querem. Sem explicar que aquilo que está no prato é um pedaço de animal morto, dizem: “pelo menos prove, é muito gostoso”, ou :“seja obediente! Se você comer tudo, ganha um pedaço de chocolate”. E, neste mesmo dia, a mamãe, em quem as crianças tanto confiam, lê com elas mais um livrinho com imagens de bichinhos, ou então, assiste com as crianças a um filme de animais.
Esse tipo de educação é pura falsidade, porém a maioria das crianças é educada desta maneira. Isto ocorre, porque os pais foram educados da mesma forma apesar de sua pretensa inteligência e de serem adultos, não entendem quanto esta educação é injusta para com os seus filhos. O pedaço de carne no prato e a vaquinha fofinha no pasto são idênticos! Todos sabem disso, mas poucos têm consciência deste fato.

5 - Direitos dos animais e erros dos humanos Hugo LaFollette
East Tennessee State University

Há limites para o modo como os seres humanos podem tratar legitimamente os animais não-humanos? Ou podemos tratá-los de qualquer maneira que nos agrade? Se há limites, quais são eles? São suficientemente fortes, como algumas pessoas supõem, para nos levarem a ser vegetarianos e a diminuir, se não mesmo eliminar, o nosso uso de animais não-humanos em experiências "científicas" pensadas para nos beneficiar?
Para avaliar completamente esta questão, vou contrastá-la com duas questões diferentes: há limites para o modo como podemos tratar legitimamente as pedras? E: há limites para o modo como podemos tratar legitimamente outros seres humanos? A resposta à primeira questão é, presumivelmente, "Não". Bem, isso não está muito certo. Há alguns limites para o que podemos legitimamente fazer com ou às pedras. Se a Paula tem uma pedra de estimação, então a Susana não pode justificadamente tirá-la da Paula ou esmagá-la com uma marreta. Afinal de contas, é a pedra da Paula.
Ou, se há uma pedra de beleza invulgar ou que seja de interesse especial para os humanos, como o "Velho Homem de Hoy" ou o Monte Rushmore, seria inapropriado, e provavelmente imoral, se eu a destruísse, vandalizasse ou se tirasse uma das suas partes para usar na minha catapulta.
Porém, estes limites surgem não de alguma preocupação directa pelas pedras; em vez disso, são impostos devido aos interesses e direitos de outros humanos. A Susana não pode levar a pedra da Paula pela mesma razão que não pode levar a borracha da Paula: é da Paula e a Paula tem direito às coisas que são suas. E ninguém pode destruir ou vandalizar objectos de grande beleza natural porque, ao fazê-lo, está a prejudicar indirectamente os interesses que os outros humanos têm nesses objectos. Então, há limites para o que podemos legitimamente fazer a objectos inanimados, mas, sejam quais forem esses limites, surgem de uma preocupação humana.[1]
Não é assim com o tratamento que destinamos aos outros humanos. Supomos que é inapropriado tratar um ser humano de qualquer maneira que nos apeteça. Eu não posso roubar outro humano; isso seria rapto. Nem posso esmagar alguém com uma marreta; isso seria, dependendo do resultado, assalto, tentativa de homicídio, ou homicídio. E a razão pela qual eu não posso fazer estas coisas não tem nada a ver com o que terceiros querem ou não. Tem a ver com o interesse e desejos da pessoa particular em causa. É errado da parte da Susana agredir a Paula, não porque outras pessoas gostem da Paula ou porque outras pessoas ficariam ofendidas, mas porque a Paula é uma pessoa. Ponto final.
Assim, há uma diferença fundamental entre aqueles objectos que podemos tratar como nos apetecer (excepto quando estivermos limitados pelos interesses de outros humanos) e aqueles que não podemos. As pedras vulgares enquadram-se no primeiro domínio; os humanos enquadram-se no último. E os animais não-humanos? Enquadram-se no primeiro ou no segundo domínio? Ou algures no meio?
Há razões para crer que muitos animais, e certamente os animais superiores, são mais parecidos com os humanos do que são parecidos com pedras. Assim, temos razões para crer que há limites para o modo como os podemos tratar legitimamente, independentemente das nossas vontades e desejos particulares. Ou pelo menos é isso que defenderei.
Por agora, destacarei simplesmente que estas são crenças que a maior parte de nós já tem. Isto é, a maior parte de nós presume que é ilegítimo tratar animais apenas como nos apetece. Por exemplo, a maior parte de nós pensa que é errado matar arbitrariamente um mamífero superior. Suponha-se que descobrimos que algum membro da nossa comunidade, digamos o João, tem o hábito de apanhar cães ou gatos abandonados e decapitá-los com a sua guilhotina caseira[2], ou tomamos conhecimento que ele inventou uma máquina que os esquarteja. Ele usa estas máquinas porque se diverte com a dor dos animais, porque delira ao ver sangue; ou talvez ele seja um cientista que quer estudar a reacção deles ao stress.Neste caso, nós concluímos prontamente que o João é imoral. Não quereríamos que ele fosse nosso Presidente, ou amigo, ou vizinho, ou genro.
Resumidamente, todos nós parecemos concordar que há limites para o modo como podemos tratar legitimamente os animais não-humanos e que estes limites surgem devido à natureza dos animais, não apenas devido aos desejos de outros humanos de verem os animais a ser bem tratados. Isto é, esses actos são errados não apenas porque outros humanos se incomodam com eles. Pensaríamos que seriam igualmente errados se fossem praticados secretamente de modo a que mais ninguém da comunidade soubesse deles. Pensamos que são errados devido ao que acontece ao animal.
Por outro lado, estamos integrados numa cultura que usa arrogantemente animais para a alimentação, para o vestuário, para a pesquisa no desenvolvimento de novos medicamentos, e para determinar a segurança de produtos de higiene doméstica. E muitas destas utilizações requerem a inflicção de uma grande quantidade de dor a animais. Os registos de tais utilizações são prontamente disponibilizados em vários jornais académicos, e objecto de crónicas de numerosos escritores deste tópico (Ryder, 1975; Singer, 1978; Mason and Singer, 1980). Mas, para o leitor que possa não estar familiarizado com estes registos, descreverei brevemente duas maneiras em que usamos animais e que lhes infligem uma quantidade substancial de dor.
Os animais que são criados para a alimentação são obviamente criados com o objectivo claro de gerarem lucro para o produtor. Nada de surpreendente. Mas as implicações disto são directa e obviamente prejudiciais para os animais. O produtor tem duas maneiras pelas quais pode aumentar o seu lucro. Uma é aumentar os preços dos bens que comercializa, a outra é gastar menos na produção desses bens. Uma vez que há um limite para o valor que as pessoas pagarão pela carne, há uma pressão financeira considerável para reduzir as despesas de produção da carne.
Isto leva compreensivelmente à sobrepopulação nas explorações pecuárias; afinal de contas, quantos mais animais um produtor conseguir encaixar num espaço menor, menos custará a produzir carne. E há pressões semelhantes para limitar o movimento dos animais. Quanto menos os animais se mexerem, menos comem, diminuindo assim a despesa do produtor. Por exemplo, os produtores que criam galinhas tendem a pô-las em gaiolas do tipo "bateria". Oito a dez galinhas são comummente mantidas num espaço mais pequeno do que uma página de jornal. Incapazes de andarem de forma minimamente livre ou mesmo de abrir as suas asas, muito menos de criar um ninho, os animais tornam-se agressivos e atacam-se entre si (Rachels, 1977).
As pessoas comuns parecem igualmente pouco ou nada familiarizadas com o uso extensivo de animais em experiências laboratoriais. Muitas destas experiências são apenas moderadamente significativas[3]; muitas delas envolvem uma dor prolongada para os animais. Por exemplo, N. J. Carlson administrou choques eléctricos de alta voltagem a dezasseis cães e descobriu que o "grupo de alta voltagem" ficava "ansioso" mais depressa. Ou o caso de investigadores no Texas que construíram um pistão pneumático para fazer com que uma bigorna batesse contra os crânios de treze macacos. Quando isso não produzia imediatamente concussões, os investigadores aumentavam a força do pistão até que produzisse problemas cardíacos, hemorragias e lesões cerebrais (Ryder, 1976). Ou ainda o caso de investigadores em Harvard que puseram ratos bebés com ratos adultos esfomeados. Os adultos comeram os bebés. A conclusão dos investigadores: a fome é um móbil importante nos animais. (Isso, é claro, é algo que aprendemos com surpresa; nunca saberíamos deste facto de outro modo.)

As Opções

Como dividimos a nossa absoluta repulsa pelo nosso hipotético João e a sua guilhotina de animais, e a nossa aceitação bastante indiferente do tratamento dos animais nas explorações pecuárias e nos laboratórios científicos e comerciais? Não é imediatamente claro que possamos fazer essa divisão. O que é claro, parece, é que temos três opções, três crenças alternativas sobre o tratamento que dedicamos aos animais. Estas são:

1) Se ficamos indignados com o tratamento do João aos animais abandonados, estamos simplesmente a ser inapropriada ou excessivamente sensíveis ou compassivos. Não devemos sentir aversão por matar, torturar ou usar animais de qualquer modo que nos apeteça, a não ser, como é evidente, que o animal seja propriedade de alguém, isto é, seu animal de companhia.

2) Há razões pelas quais nós devemos tratar os animais não-humanos melhor do que tratamos as pedras; ainda assim, há também razões pelas quais podemos usar os animais não-humanos de maneiras segundo as quais nunca poderíamos usar legitimamente humanos.

3) Nós devemos tratar os animais não-humanos de maneira mais semelhante ao modo como tratamos presentemente os humanos. Muitas das nossas maneiras aceites de tratar os animais são, de facto, moralmente condenáveis.

A primeira posição, parece, é completamente indefensável. Nenhuma pessoa razoável, penso eu, está disposta a adoptar uma posição que defende que torturar animais por divertimento é completamente aceitável; ninguém está disposto a dizer que o João é um membro bem integrado na sociedade. Esta crença, parece, é virtualmente inabalável. A maior parte dos leitores entendeu perfeitamente o que eu queria dizer quando descrevi o comportamento do João como "tortura". Mas esta afirmação seria um absurdo se pensássemos que não há limites morais para o modo como podemos tratar os animais.[4] Então, ficamos com as duas últimas opções. E, é evidente, aquela que escolhermos terá um impacto crucial nas vidas dos humanos e dos outros animais.
Um esclarecimento necessário: dizer que os animais devem ser tratados de maneira mais semelhante ao modo como tratamos os humanos não é o mesmo que dizer que eles devem ser tratados exactamente como os humanos. Por exemplo, nós não precisamos de considerar a hipótese de dar aos animais o direito de voto, o direito de liberdade religiosa, ou o direito de liberdade de expressão. Tanto quanto possa saber, a maior parte dos animais não tem as capacidades necessárias para exercer estes direitos. Contudo, o mesmo é verdade em relação a crianças muito novas e a adultos com sérios casos de deficiência mental. É por isso que também não têm estes direitos: não têm as capacidades requeridas para tal. Ainda assim, o mero facto de que o direito de voto não é concedido a alguns humanos adultos não significa que seja legítimo comê-los ao almoço ou testar champô nos seus olhos. Então, por que razão poderemos assumir que o é para com os animais?

Porque é que os animais não devem sofrer desnecessariamente

Até agora tenho tentado identificar as nossas profundas crenças sobre as restrições relativas ao tratamento correcto dos animais. Agora é altura de tentar oferecer uma defesa positiva do nosso entendimento comum, uma defesa que terá implicações ainda mais radicais do que possamos ter suposto. Isto é, quero argumentar a favor da opção 3) acima referida; quero argumentar que há limites rigorosos sobre o que é moralmente permissível fazer aos animais. Mais especificamente, pretendo argumentar que todos nós devemos tornar-nos vegetarianos e que devemos reduzir drasticamente, se não mesmo eliminar, o nosso uso de animais nos laboratórios.
Embora haja numerosos argumentos que podem ser apresentados em defesa desta posição, eu quero defender uma afirmação em particular: que nós devemos não infligir dor desnecessária a animais. Antes de continuar, devo esclarecer o que quero dizer com "dor desnecessária". O ponto pode ser estabelecido mais claramente através de uma analogia.
Comparem-se os seguintes casos: 1) eu espeto o braço da minha filha com uma agulha sem ter uma razão aparente para o fazer (embora não precisemos de assumir que eu retiro daí qualquer prazer sádico); 2) eu sou um médico e vacino-a contra a tifóide. O que é que diferencia estes casos? Em ambos os casos eu espeto o braço da minha filha; em ambos os casos (presumamos) eu inflijo-lhe uma quantidade similar de dor. Todavia, consideramos que o último não é apenas justificável, mas possivelmente obrigatório; consideramos o primeiro caso sádico. Porquê? Porque consiste na inflicção de dor desnecessária. A minha filha não beneficia de todo com o que lhe faço. Assim, a dor desnecessária é aquela que é infligida num ser senciente (física e psiquicamente sensível) quando não tal não acontece para o bem desse ser em particular. Esta última seria uma dor necessária, porque seria aquela dor que esse ser sofreria para seu próprio bem.
Há duas premissas principais no meu argumento. A primeira é a afirmação factual de que os animais sentem, de facto, dor. A segunda é a afirmação de que o potencial sofrimento de um animal limita fortemente aquilo que lhe podemos justificadamente fazer, restringindo o modo como podemos usá-lo legitimamente.

Que os animais sentem dor

Que os animais sentem dor parece relativamente incontestável. É uma crença que todos partilhamos. Como fiz notar anteriormente, nem faria sentido falar em "torturar" um animal se assumíssemos que ele não é capaz de sentir dor. Nem poderíamos entender a repulsa pelo uso dos animais abandonados da parte do João a não ser que pensássemos que os animais sofriam nas suas mãos. Se o João apanhasse latas abandonadas e as cortasse aos pedaços com a sua guilhotina, nós poderíamos pensar que o João seria extremamente esquisito, mas não imoral.
Mas mais pode ser dito. Nós temos mais do que provas comportamentais adequadas de que os animais sentem dor e de que podem sofrer. A maior parte de nós viu um cão que tenha sido atropelado por um carro, embora não tenha morrido imediatamente. O cão tem convulsões, sangra e gane. De forma menos dramática, a maior parte de nós, num qualquer momento, já pisou a cauda de um gato ou a pata de um cão e testemunhou a reacção do animal. A reacção, surpreendentemente, é como a nossa própria reacção em casos similares. Se alguém pisa a minha mão, provavelmente eu gritarei e tentarei mexê-la.
Mas não precisamos de fazer depender o nosso ponto nas provas comportamentais, embora me pareça realmente que isso é mais do que suficiente. Devemos também notar que nós partilhamos estruturas anatómicas importantes com animais superiores. O sistema nervoso central de um ser humano é impressionantemente semelhante ao de um chimpanzé, cão, porco, e mesmo ao de um rato. Isto não é o mesmo que dizer que os cérebros são exactamente iguais; não o são. O córtex cerebral nos seres humanos está mais desenvolvido do que na maior parte dos mamíferos (embora não evidentemente quando comparado com um golfinho ou um grande primata); mas o córtex é a localização nas nossas "funções cerebrais superiores" - por exemplo, onde se encontra o pensamento, o discurso, etc.. Contudo, as áreas do cérebro identificadas neurofisiologicamente como os "centros de dor" são virtualmente idênticas entre animais humanos e não-humanos. De acordo com a biologia evolutiva, isto é exactamente o que nós devemos esperar. Os centros de dor funcionaram bem ao aumentar a sobrevivência de espécies menores, pelo que foram alterados apenas ligeiramente em estágios evolutivos que se sucederam. As funções cerebrais superiores, no entanto, conduzem à sobrevivência e, assim, levaram a avanços mais dramáticos no desenvolvimento cerebral. Considerando tudo isto, parece inegável que muitos animais sentem dor.

Que eles sentem dor é moralmente relevante

"E depois?", alguém poderá perguntar. "Mesmo que os animais sintam realmente dor, porque é que deverá isso limitar ou, pelo menos, restringir seriamente o tratamento que lhes destinamos? Porque é que não podemos continuar a usá-los para os nossos fins, sejam eles quais forem?".
Coloquemos a questão ao contrário por um momento, e perguntemos: por que razão pensamos que devemos poder usá-los para os nossos fins, considerando que eles sofrem? Afinal de contas, nós estamos firmemente opostos à inflicção desnecessária de dor a seres humanos. Se os animais também sentem dor, porque é que não devemos ter a mesma relutância em infligir-lhes dor desnecessária?
Um princípio fundamental da ética é que devemos tratar casos iguais de forma igual. Isto é, nós devemos tratar dois casos igualmente, a não ser que haja alguma razão geral e relevante que justifique a diferença no tratamento. Assim, dois estudantes que têm um desempenho igualmente bom numa aula devem ter os mesmos resultados na avaliação; dois que tenham um desempenho bastante diferente devem receber diferentes resultados na avaliação. Pelo mesmo princípio, se dois seres sentem dor e se é impróprio infligir dor desnecessária a um deles, seria igualmente impróprio infligir dor desnecessária ao outro.
Mas o argumento progrediu demasiado depressa. Este argumento funciona apenas se a razão pela qual é errado infligir dor desnecessária num ser é que ele sente dor. Se houvesse outra razão que pudesse diferenciar animais humanos de não-humanos, então não seríamos capazes de inferir que é ilegítimo infligir dor desnecessária em animais. Assim, se alguém pretende demonstrar que não é errado infligir dor desnecessária em animais, então tem que identificar alguma diferença relevante entre animais humanos e não-humanos, alguma diferença que justifique esta diferença de tratamento.
E, é claro, isto é justamente o que a maior parte dos defensores do modo como tratamos presentemente os animais estão inclinados a fazer. Embora as pessoas tenham outrora visto os animais como seres não-sencientes, como meros autómatos, isso já não acontece. A crença de que os animais são incapazes de sentir dor não é defensável à luz de todas as provas comportamentais e científicas. Portanto, o passo comum é encontrar alguma outra diferença que se pense distinguir significativamente os humanos dos animais.
A mais frequentemente citada e promissora candidata é a racionalidade ou a consciência de si como um ser contínuo. Os humanos, diz-se, podem raciocinar e pensar; os animais (presume-se) não podem. Mais ainda, a capacidade de raciocínio reflecte-se na capacidade do humano de se ver a si mesmo como um ser contínuo, como um ser que tem um passado e que terá um futuro.
Concedamos por um momento que os humanos são racionais e que os animais não; que os humanos têm uma consciência de si como seres com uma existência contínua e que os animais não. Porque é que isso haveria de fazer diferença? Ou, mais precisamente, porque é que haveria de fazer tanta diferença como faz? Será que o facto de nós sermos racionais legitima o nosso uso de animais não-racionais de qualquer maneira que nos apeteça?
Parece que não. Certamente não legitima o tratamento abusivo de outros humanos. Alguns seres humanos têm sérios atrasos mentais ou estão em comas irreversíveis, e assim são tão racionais como os animais. Contudo, pensamos que seria inapropriado usar estes humanos quer para determinar os efeitos do amoníaco na pele, quer para grelhá-los para o jantar. Assumimos que fazê-lo iria violar os seus direitos. Então porque é que não devemos ficar igualmente relutantes quanto a usar animais desta maneira? (Se achar a sugestão de usar humanos destas maneiras repugnante, pergunte-se: porque é que é tão fácil usar animais destas maneiras?) Então, a racionalidade não parece ser o fundamento do que há de errado em infligir dor desnecessária em humanos.
Ainda mais, podemos imaginar uma situação aparentemente análoga, embora contrastante. Suponha que uma raça de extra-terrestres especiais vinha à terra, extra-terrestres cuja inteligência fosse amplamente superior à nossa. Suponhamos que eles eram mais inteligentes em relação a nós do que nós somos em relação aos outros mamíferos. Se isso acontecesse (embora suponhamos que isso não acontecerá), poderiam estes extra-terrestres justificadamente grelhar-nos em churrascos ou usar-nos para testar um novo produto de limpeza para a sua nave espacial? Certamente, pensaria (e esperaria) que não. Se eles não poderiam justificadamente fazê-lo, parece que temos que concluir que a inteligência e a racionalidade não justificam a nossa convicção de que é errado infligir dor desnecessária em humanos.
Finalmente, podemos notar que as características em causa estão mais propriamente ligadas a outros direitos que não sejam o direito de não sofrer dor desnecessária. A racionalidade está mais ligada ao direito de voto, de liberdade de expressão, etc., enquanto a capacidade que um ser tem de ser consciente de si como tendo uma existência contínua parece mais intimamente ligada ao direito à vida. (Afinal de contas, a morte não é temida por um ser que não tem consciência de si como existindo no futuro.) Inversamente, o direito a não sofrer dor desnecessária parece ligado a apenas uma característica, nomeadamente a capacidade de sentir dor. Se os humanos não tivessem nenhum centro de dor, se não experienciassem dor, então não teriam o direito de não sofrer dor desnecessária, independentemente de quão inteligentes ou racionais fossem. Consequentemente, parece que é moralmente inaceitável infligir dor desnecessária em animais.

Objecções à minha perspectiva

O sofrimento dos animais não é desnecessário

Alguém poderia conceder tudo isto que estabeleci, e ainda assim afirmar que a nossa utilização de animais é aceitável, uma vez que o sofrimento dos animais não é verdadeiramente desnecessário. Afinal de contas, a maior parte dos humanos come animais e portanto consegue alimentar-se a partir deles; a experimentação animal é uma parte significativa e vital da nossa tentativa de descobrir curas para doenças humanas devastadoras e de proteger os humanos da introdução de produtos comerciais possivelmente perigosos.
Sem dúvida que a utilização de animais destas maneiras beneficia por vezes os humanos. Mas será genuinamente necessária? Não é evidente que assim seja. Por exemplo, embora a maior parte dos humanos adquira alguns nutrientes importantes ao comer animais, há alternativas mais adequadas. Nunca é preciso comer carne para se ser muito saudável. De facto, as dietas vegetarianas podem ser extremamente benéficas; aqueles que têm dietas vegetarianas, por exemplo, têm menos incidência de determinadas formas de cancro. Assim, a razão fundamental pela qual as pessoas são carnívoras em vez de vegetarianas é que estas preferem (ou pensam que preferem) a textura da carne em detrimento das alternativas.[5] Mas certamente satisfazer o palato de certa maneira não é uma razão suficiente para infligir uma dor significativa a animais. Reportando-me a um caso referido anterior: o João pode retirar um prazer enorme da tortura de animais abandonados, mas isso não justifica que eles os torture.
Certamente, também muitas experiências em animais são desnecessárias. A experiência pode não ter sentido ou ser continuamente duplicada. Muitas experiências são, sem dúvida, meramente motivadas pelo desejo de serem novamente publicadas (se forem académicas) ou para comercializarem a 97.ª marca de pasta de dentes. Mais ainda, muitos críticos afirmaram que a larga maioria de experiências podem ser feitas tão bem, se não melhor, usando simulações por computador e culturas de células (Pratt, 1980).
Penso que os críticos estão obviamente certos ao dizerem que muitas das experiências são totalmente desnecessárias, pelo que pura e simplesmente não devem ser feitas, ou que o seu objectivo previsto pode ser razoavelmente atingido de uma forma alternativa que seja fazível. Ainda assim, talvez haja alguns produtos que só podem ser conseguidos, ou pelo menos conseguidos rapidamente, pelo uso da experimentação animal.
Mas porque é que devemos supor que isso justifica a inflicção de uma dor enorme nos animais? Parece pelo menos igualmente plausível assumir que há alguns ganhos científicos que podem ser atingidos apenas através de pesquisas em seres humanos. De facto, essa é exactamente a afirmação que os Nazis fizeram quando realizaram as suas "experiências científicas" nos seus prisioneiros Judeus. Contudo, presumivelmente nós pensamos que tais experiências são moralmente questionáveis, independentemente do bem que possa vir (ou que tenha vindo) delas. Os humanos simplesmente não devem ser usados dessa maneira. Mas então porquê supor que os animais podem sê-lo?
Parece que enfrentamos o seguinte dilema: ou os animais de laboratório são ou não suficientemente iguais a nós de modo a que as pesquisas neles possam ser generalizadas para seres humanos. Se eles não são suficientemente iguais a nós para permitir generalizar as descobertas experimentais aos humanos, então as experiências não fazem aquilo para que servem, e, assim, não têm sentido. Por outro lado, se os animais são suficientemente iguais a nós para permitir generalizar as descobertas aos humanos, então eles são suficientemente iguais a nós, de modo que devemos presumir que tais experiências são imorais. Portanto, em qualquer caso, a experimentação é inaceitável.
Concordo que esta conclusão parece demasiado forte. Todos nós vemos os benefícios que podem resultar de certas formas de investigação médica. Pode até ser que algumas formas limitadas de investigação possam ser justificadas, embora eu suspeite que não podem. Em todo o caso, se essa investigação pudesse ser justificada, isso não enfraqueceria de modo nenhum o facto de que a maioria das investigações laboratoriais com animais não podem sê-lo.

A senciência não é suficiente

Alguns comentadores, e mais destacadamente R. G. Frey (1980), argumentaram que, embora os animais sejam sencientes, não são sapientes, isto é, não podem raciocinar. Assim, afirma ele (para recuperar o argumento anterior), nós podemos usá-los para os nossos próprios fins.
Anteriormente, tentei defender que os animais não precisam de ser sapientes para merecerem o nosso respeito. O simples facto de que eles podem sentir dor sustenta a afirmação de que é errado infligir-lhes dor desnecessária. Agora quero contrariar o argumento de Frey, segundo o qual os animais não são racionais. Ele argumenta que os animais não podem raciocinar. Qualquer comportamento animal que parece racional, afirma ele, é meramente instintivo. Para ser racional, um ser precisa de ter crenças e nós não temos razões para supor que os animais têm crenças. Porquê? Porque eles não têm o uso genuíno da linguagem. Nem são capazes de mentir ou de afirmar deliberadamente algo de falso.
A afirmação de que estes animais não têm linguagem ou pensamento parece altamente questionável. Uma série de estudos com chimpanzés e macacos mostrou que eles têm a capacidade de aprender linguagem gestual (Gardner and Gardner, 1969). Uma vez que tenham dominado a linguagem, eles comunicam com os outros humanos; soube-se que alguns ensinaram a linguagem gestual aos outros primatas.
Frey, contudo, afirma que este comportamento é apenas mimetismo ou uma resposta a estímulos. Isso parece errado, pois vários animais mostraram combinar palavras de maneiras que nunca tinham aprendido, em suma, criando novas palavras. Mais ainda, há pelo menos um caso registado de um babuíno que mentiu. E alguns investigadores afirmaram que os golfinhos são capazes de aprender a sintaxe (regras de gramática), bem como o significado de certas palavras (Griffin, 1976). Dado que tais experiências são razoavelmente novas e são promissoras, devemos concluir com Griffin que os animais, mesmo os que estão consideravelmente mais abaixo na cadeia evolutiva, podem ser capazes de pelo menos terem um pensamento rudimentar.

E se criássemos os animais humanamente?

Alguém poderia opor-se à minha perspectiva da seguinte maneira: eu tenho defendido que nós devemos não infligir dor nos animais. Mas, e se nós os criássemos humanamente e os matássemos rapidamente (e, assim, de forma relativamente indolor)? Daria o meu argumento alguma razão para supor que comer animais nestas condições seria errado? Se não, com que base poderia alguém opor-se plausivelmente a comer carne nestas condições?
Esta é uma questão teórica interessante. Mas antes de tentar responder-lhe, devo deixar claro que a resposta não tem qualquer influência sobre como devemos actuar na situação presente. Como fiz notar antes, há fortes questões económicas que tornam a criação humana de animais altamente improvável. Consequentemente, é provável que nós nunca tenhamos que decidir se devemos comer animais criados humanamente. Assim, mesmo que fosse moralmente permissível comer carne nestas circunstâncias imaginárias, continuaria a ser inaceitável comermos carne nas circunstâncias actuais (embora, é claro, nada disto invalide o trabalho para conseguir métodos mais humanos de criar os animais na pecuária).
Em segundo lugar, se, ao contrário de todas as expectativas razoáveis, começássemos a criar humanamente animais na pecuária, a carne resultante seria tão cara que o consumo ficaria fortemente limitado. Assim, uma vez mais, é provável que poucos de nós se deparassem com um verdadeiro dilema sobre comer animais criados humanamente.
Mas suponhamos, contrariamente à realidade, que poderíamos obter carne de animais que sofressem apenas ligeiramente (porque a carne teria um preço razoável). Seria, então, moralmente permissível comê-los? Aqui a resposta, parece, é mais complicada. Tenho estado primeiramente preocupado em mostrar que o tratamento presente que dedicamos aos animais é moralmente indefensável, uma vez que a prática da pecuária intensiva lhes causa uma dor significativa e desnecessária. Assim, a relevância do meu argumento para este caso hipotético não é óbvia.
Escolhi usar o argumento que usei porque era simples, embora convincente. Isto é, parece virtualmente inquestionável que é errado infligir dor desnecessária em seres sencientes, e que as nossas práticas presentes causam, de facto, esse tipo de dor aos animais. Mais ainda, uma vez que a nossa única opção genuína é entre comer animais criados de forma não humana ou tornar-nos vegetarianos, então este argumento é mais do que suficiente para os fins em causa. Todavia, parece realmente apropriado no fim deste artigo entrar em ousadas conjecturas especulativas.
A minha perspectiva, de algum modo tentadora, é a seguinte: o argumento da dor necessária ajuda-nos a aperceber-nos de que há limites morais sobre como devemos usar legitimamente os animais. Mais ainda, estes limites surgem devido aos interesses dos animais em si mesmos, e não devido a nenhum interesse parasitário que os humanos tenham neles.
Mas isso significa dizer que os animais são, em pelo menos algum sentido significativo, fins em si mesmos, coisas que não podem ser legitimamente usadas meramente como meios para fins humanos. Se, contudo, o facto de serem fins em si mesmos faz com que seja ilegítimo infligir neles dor para satisfazer o nosso palato, parece que também talvez não seja razoável matar animais para estimular o nosso palato - mesmo que eles tenham sido criados humanamente.
Reconheço que esta resposta não será inteiramente convincente. Isso não é surpreendente. Eu não estou sequer inteiramente convencido da sua força. Em todo o caso, parece uma extensão plausível do argumento anterior. E, mesmo que não seja totalmente adequado, estou inclinado a adoptar um princípio de precaução aqui: é melhor abstermo-nos de cometer acções que podem ser seriamente imorais (mesmo que não estejamos certos de que o são) se os ganhos potenciais da acção questionável são mínimos; termos o palato estimulado de determinada forma parece ser claramente um ganho mínimo. Mais ainda, uma vez que a escolha moral que realmente enfrentamos não é como agiríamos neste caso hipotético, mas como devemos agir no mundo real, então esta admissão não é minimamente prejudicial para o argumento apresentado aqui.

Conclusão

Compreendo que a afirmação de que há limites morais significativos para o modo como podemos legitimamente tratar os animais opõe-se bastante à atitude para com eles que nos foi legada, pois, enquanto a maior parte das pessoas pensa que é errado ou pelo menos de mau gosto torturar animais, a maioria geralmente assume que os animais estão aqui para nossa utilização. Nesse ponto, a minha perspectiva é um afastamento radical da nossa herança cultural. Mas, à luz dos argumentos apresentados, é um afastamento com mérito.
Não sei exactamente até onde leva esta perspectiva. Não sei se toda a experimentação animal é injustificada, não sei exactamente como lidar com algumas pragas, o que fazer com o gado actualmente existente, etc.. Mas o facto de que nem todos os pormenores estão pensados não pode ser considerado contra a afirmação de que a nossa perspectiva presente é moralmente inaceitável.
Quando as mulheres começaram a exercer pressão a favor do direito de voto ou da igualdade de direitos em geral, não sabiam exactamente onde é que as suas reivindicações nos levariam. E ainda não sabem; nem eu. Mas estou bastante confiante de que é uma mudança para melhor, muito embora os pormenores específicos das mudanças só se venham a revelar com o tempo. E o mesmo é verdade sobre o tratamento que destinamos aos animais. Talvez um dia as nossas crianças olharão para a geração presente e questionar-se-ão sobre como é que nós alguma vez acreditámos que era tolerável tratar os animais da maneira que os tratamos. Eu espero sinceramente que sim.

Referências

Frey, R.G., Interests and Rights, Oxford, The Clarendon Press, 1980.
Gardner, B.T. and Gardner, R.A., "Teaching Sign Language to a Chimpanzee", Science, 165: 664-72, 1969.
Griffin, D.G., The Question of Animal Awareness: The Evolutionary Continuity of Mental Experience, New York, The Rockefeller University Press, 1976.

Mason J. and Singer, Peter, Animal Factories, New York, Crown Publishers, 1980.
Pratt, D., Alternatives to Pain in Experimentation on Animals, New York: Argus Archives, 1980.

Ryder, Richard, "Experiments on Animals", in Animal Rights and Moral Obligation, ed. T. Regan and P. Singer, Englewood Cliffs, NJ, Prentice-Hall, Inc., 1976.

Ryder, Richard, Victims of Science: The Use of Animals in Research, London, Davis-Poynter, 1975.
Rachels, James, "Vegetarianism and the "Other Weight Problem"", in World Hunger and Moral Obligation, ed. W. Aiken and H. LaFollette, Englewood Cliffs, NJ, Prentice-Hall, Inc., 1977.
Singer, Peter, Animal Liberation, New York, Avon Books, 1978.

Tradução de Miguel Moutinho

Sociedade Ética de Defesa dos Animais

[1] Na verdade, penso que a situação é bastante mais complexa do que sugeri. Há muito a dizer a favor da afirmação de que há limites para o que os humanos podem legitimamente fazer a objectos inanimados, e que esses limites não acabam nos interesses dos humanos neles. Mas essa posição é reconhecidamente controversa. Mais ainda, eu posso defender o ponto que pretendo defender sobre os animais sem abordá-la. Então, pelo menos para já, farei como se as únicas restrições para o nosso comportamento relativamente aos objectos inanimados derivem dos interesses humanos. Outros ensaístas discutirão sem dúvida as preocupações ambientais mais abrangentes nos seus ensaios.

[2] Este exemplo não é, como pode ter suposto ou esperado, uma mera peça de ficção. Alguns cientistas investigadores compram guilhotinas em miniatura feitas especialmente para decapitar ratos de laboratório. Anúncios destes instrumentos aparecem frequentemente nas páginas de jornais de medicina veterinária.

[3] O Professor Harry Harlow, cuja investigação em bebés macacos é conhecida em todo o mundo, disse que "a maior parte das experiências não valem a pena ser feitas e as informações obtidas não são dignas de publicação", in Journal of Comparative and Physiological Psychology (1962).

[4] Deixarei agora de referir "animais não-humanos" e, daqui em diante, referir-me-ei a eles simplesmente como "animais". A expressão mais longa, embora seja mais precisa, é simplesmente demasiado pesada.

[5] Digo "penso que eles preferem" porque já vi muitas pessoas que descobriram, depois de eliminarem ou mesmo reduzirem o consumo de carne, que as suas dietas são mais variadas e saborosas do que quando eram carnívoros.

N. Dower (org.), Ethics and the Environment, Gower Press, 1989, pp. 79-90.

filedu@filedu.com
http://www.filedu.com/hlafollettedireitosdosanimaiseerrosdoshumanos.html


6 - PARAR DE COMER CARNE MUDA A REALIDADE DOS ANIMAIS CRIADOS PARA ALIMENTAÇÃO?


Empresas americanas produtoras de leite estão querendo processar os fabricantes de leite de soja, por eles venderem o produto em embalagem semelhante e com o nome "Leite". Apesar de especificarem que o produto não é de orígem animal, os distribuidores do leite de vaca querem que os concorrentes do mercado vegetariano mudem o nome do produto, pois consideram a concorrência desleal.
Isso é ponto pra os defensores dos animais e para os que defendem a dieta vegetariana (onde os indivíduos não comem carne, mas bebem leite e consomem ovos) e vegan (não consomem nenhum produto de orígem animal), pois se a indústria de lacticínios está se preocupando é porque estão perdendo consumidores.
A produção de leite também implica em crueldade com os animais. Milhares de bezerros são mortos, criados em gaiolas minúsculas para que não desenvolvam nem enrijeçam músculos, a fim de serem abatidos e vendidos como vitela, que é considerada uma carne nobre por sua maciez. Pra que a vaca possa produzir o leite que bebemos, acabamos por ser cúmplices da produção de vitela e, muitas vezes, do abate indiscriminado de bezerros.
Em 1999, atraves de uma denúncia, foram encontrados dezenas de bezerros abatidos a tiros numa vala, onde alguns foram enterrados ainda vivos, numa fazenda do Texas. No Brasil não é melhor, pois as denúncias referentes a abatedouros são o que há de mais grotesco e desumano.
Lembremos também, que alguns bezerros são vendidos para rodeios, sofrendo fraturas de coluna, patas, hemorragias e quase sempre abatidos de forma cruel.
Atualmente uma vaca produz 10 vezes mais leite do que a sua natureza permitiria. São tratadas como máquinas, não tomam sol, nao amamentam seus filhotes, recebem doses de hormônios, sofrem dor (basta ver o tamanho das tetas de uma vaca leiteira) e algumas sofrem até infecções. E quando estão exaustas, são abatidas. Muitos animais doentes, que mal podem se levantar, são arrastados para os matadouros assim mesmo, para não haver desperdício.
O leite de soja ou mesmo o de arroz, têm um gosto estranho no início, mas logo se acostuma. É até mais saboroso que o leite de orígem animal. Após algum tempo longe da lactose, que dificulta a digestão, nos sentimos muito melhor. No Brasil ainda não se vende leite de vaca sem lactose, mas nos EUA já se pode escolher comprar o leite sem essa substância, uma vez que algumas pessoas apresentam reações alérgicas ao consumí-la, assim como problemas gastro- intestinais.
Nos EUA e na Inglaterra o número de vegetarianos está crescendo, principalmente entre os adolescentes.O consumo de carne de vitela caiu até 70%.Os supermercados incluíram produtos vegetarianos e vegan em suas prateleiras. A tendência de se adotar uma dieta sem a exploração de animais vem crescendo além das expectativas, também pelo fato de ser mais saudável. É comum encontrarmos pessoas que seguem a dieta vegan por indicação médica no controle de obesidade e pressão alta, uma vez que o colesterol diminui rapidamente quando nao se consome produtos de orígem animal.
Sob o ponto de vista ético, também podemos usar um dado estatístico: pra quem acha que nao adianta parar de comer carne, saiba que cada ser humano vegetariano, salva 35 animais por ano de viverem amontoados em gaiolas, de serem mutilados, drogados, manuseados inapropriadamente pelos humanos e do abate cruento, fato que muitos preferem ignorar ou fantasiar afirmando: "animais mortos para alimentação são abatidos sem sofrimento".
Se um único indivíduo para de comer carne, ao longo de 20 anos,é responsável por ter poupado 700 animais. Numa casa com 6 pessoas vegetarianas, seriam 4200 animais salvos, em 20 anos.
Grandes mudanças começam com atitudes individuais. Para os defensores dos animais, ser vegetariano é a maior contribuição que se pode dar pelo fim do sofrimento deles.

7 - Aumentando o círculo de compaixão

"Historicamente, o homem tem expandido o alcance de seu domínio ético, à medida que a ignorância e as carências foram sendo diminuídas. Primeiro para além de sua família ou tribo, depois para além de sua religião, seu grupo racial e sua nação. Hoje em dia, incluir outras espécies no escopo dessas decisões pode parecer impensável para os conservadores e moderados. Um dia, décadas ou séculos no futuro, poderá ser nada mais que um pré-requisito do comportamento 'civilizado'."30

Bezerros encarcerados, criados para obter carne de vitela, vivem sobre seus próprios excrementos.
No matadouro, esse porco desmaiou sobre seu próprio vômito.

Nossa tarefa deve ser nos libertarmos dessa prisão aumentando o nosso círculo de compaixão para incluir todas as criaturas viventes e toda a natureza em sua beleza.
Albert Einstein, em carta datada de 1950, citado no livro de H. Eves 'Mathematical Circles Adieu', 1977

Peter Singer, filósofo da Princeton University e autor de Animal Liberation (Liberação Animal), escreveu que "todos os argumentos para provar a superioridade humana não conseguem desmentir esse fato: no sofrimento, os animais são iguais à nós". Para qualquer indivíduo capaz de sofrer, o grau de sofrimento, e não a espécie, é que conta.

Perus engaiolados no caminhão.

Os animais do mundo existem por suas próprias razões. Eles não foram feitos para o uso dos humanos, da mesma forma que os negros não foram feitos para o uso dos brancos e nem as mulheres foram feitas para o uso dos homens.
Alice Walker, autor de "The Color Purple" (A Côr Púrpura), em prefácio do livro " The Dreaded Comparison: Human & Animal Slavery" (A Temível Comparação: Escravidão Humana e Animal)

Humanos -- os quais escravizam, castram, experimentam produtos químicos e cortam os outros animais -- têm tido uma compreensível tendência a fingir que os animais não sentem dor. Uma distinção clara entre humanos e "animais" é essencial para que possamos usá-los de acordo com a nossa vontade, para fazê-los trabalhar para nós, para usarmos seus couro e comermos sua carne -- sem nenhum vestígio de culpa ou remorso inquietantes. Não é cabível para nós, que somos tão indiferentes a respeito dos outros animais, afirmar que somente os humanos podem sofrer. O comportamento dos outros animais expõe a ilusão desse argumento arrogante. Eles são por demais parecidos conosco.
Dr. Carl Sagan e Dra. Ann Druyan, autores de "Shadows of Forgotten Ancestors" (Sombras dos Ancestrais Esquecidos), 1992

Divulgação Vegan
Através da História, os animais têm sido usados como meios para objetivos humanos. Consequentemente, é impossível evitar todos os produtos que estejam de alguma maneira vinculados ao sofrimento dos animais. No entanto, se rejeitarmos os produtos primários pelos quais os animais são mortos e explorados, nós estaremos retirando o apoio à pecuária e contribuindo para reduzir o sofrimento.

Em 1997, o órgão de pesquisas Roper Poll estimou o número de vegans nos EUA entre 1,5 e 2 milhões.

Aliviar o sofrimento dos outros seres é a essência do Veganismo e ele pode ser adotado por cada um de nós. Não importa que outras crenças nós tenhamos ou como levamos nossa vida em outros aspectos, nós podemos tomar uma decisão consciente de agir com bondade e compaixão em vez de apenas seguir hábitos e tradições. Tomar decisões humanitárias é a afirmação última da nossa qualidade humana.

A questão não é "Animais falam ?", nem tampouco "Animais raciocinam ?", mas sim "Animais sofrem ?"
Jeremy Bentham, autor de "An Introduction to the Principles of Morals & Legislation" (Uma Introdução aos Princípios Morais e de Legislação), 1789

O Vegan Outreach pode fornecer cópias do folheto original Why Vegan e o folheto Vegetarian Living (Vida Vegetariana) para distribuir em sua área, bem como o Vegan Starter Pack - Kit do Vegan Iniciante, o qual inclui o Parecer da ADA sobre as dietas vegetarianas (1997), receitas, um glossário de alimentos vegan, ensaios, perguntas e respostas, informações sobre outras organizações, etc.
Disponível no Vegan Outreach:*

Vegan Starter Pack (Kit do Vegan Iniciante) GRÁTIS
The Vegetarian Way (O Caminho Vegetariano) $25
Vegan Vittles Livro de receitas com versões vegan de receitas comuns $15
The Uncheese Cookbook $14
Vegan: The New Ethics of Eating (Vegan: A Nova Ética da Alimentação) Um livro aprofundado sobre o veganismo $15
Animal Liberation (Liberação Animal) de Peter Singer $14
Humane Slaughter & Peta Pig Farm Investigation (Investigação dos Matadouros e Fazendas de Porcos filmada pela PETA) VHS $16
A Cow at my Table (Uma Vaca na minha Mesa) documentário em formato VHS $19
*Veja nosso catálogo na Internet ou ligue para 412.968.0268 (EUA), preços incluem despesas de correio

É fácil criticarmos os preconceitos de nossos avós, dos quais os nossos pais se libertaram. Mais difícil é nos distanciarmos de nossas próprias crenças, de modo que possamos identificar imparcialmente os preconceitos dentre as crenças e valores que adotamos.

Peter Singer em "Practical Ethics" (Ética Prática), 1993

Baseado no histórico e no desenvolvimento dos sistemas de confinamento da pecuária industrializada, fica claro que se a dor, o sofrimento e as doenças dos animais não interferirem com a produtividade econômica, essas condições serão ignoradas (Daí vem a existência das assim chamadas "doenças da produção" que são endêmicas na pecuária intesiva). E mais importante, não há restrições legais ou regulamentares quanto ao quê pode ser feito aos animais na busca pelo aumento de produtividade, tanto na pesquisa como na indústria pecuária.
Dr. PhD Bernard E. Rollin, "Bad Ethics, Good Ethics and the Genetic Engineering of Animals in Agriculture" (Ética Ruim, Ética Boa e a Engenharia Genética dos Animais na Pecuária), J Anim Sci (Jornal de Ciência Animal), 1996;74:535-541

Será que nós, como humanos, tendo a habilidade de raciocinar e comunicar idéias abstratas verbalmente e por escrito, e tendo a habilidade de formar julgamentos éticos e morais usando o conhecimento acumulado, teremos o direito de tirar as vidas de outros seres sensíveis ? Principalmente quando não estamos sendo forçados a isso pela fome ou pela necessidade nutritiva, mas sim pelo motivo um tanto frívolo de gostar do sabor da carne ? Enfim, não deveríamos ter uma melhor consciência disso ?
Dr. PhD Peter Cheeke, "Contemporary Issues in Animal Agriculture" (Questões Atuais da Pecuária), 1999

A verdadeira bondade humana, em toda a sua pureza e liberdade, só pode surgir quando o seu alvo não tem poder. O verdadeiro teste moral da humanidade, seu teste fundamental, consiste em sua atitude perante aqueles que estão à sua mercê: os animais. E nesse aspecto, a humanidade tem sofrido uma derrota, um fracasso tão fundamental que todas os outros decorrem dele.
Milan Kundera "The Unbearable Lightness of BeingI" (A Insustentável Leveza do Ser), 1984


8 - O que significa a palavra VEGAN?


A palavra vegan é uma corruptela de vegetarian, ambas em inglês, e foi usada pela primeira vez por uma sociedade vegetariana britânica – por volta de 1940. O termo vegan começou a ser conhecido no Brasil através de sua pronúncia estrangeira: falando-se vígan, mas é válido ressaltar que não devemos intensificar a pronúncia do estrangeirismo à vaidade da figura de linguagem deste termo em questão; aliás, não devemos nos envaidecer por praticar nenhum “ismo”, porque o veganismo é um aprofundamento do vegetarianismo, não sendo a meta última da vida nem um fim em si mesmo, portanto, o termo vegano é mais adequado à língua portuguesa e ser vegano é estar consciente de que a exploração animal é um equívoco e precisa ser minimizada o máximo possível – melhor do que isso é a abolição completa!
O veganismo é uma filosofia de vida que estabelece uma conduta prática de boicote para excluir do consumo do ser humano qualquer produto ou alimento que tenha origem animal ou utilize animais em testes durante sua fabricação. Um dos principais fundamentos que tem levado vários indivíduos adotarem o veganismo tem sido de ordem ética. Entretanto, há várias outras questões que complementam e justificam o veganismo, por ex.: questões metafísicas, morais, científicas (com relevância à saúde), filosóficas, ecológicas, econômicas etc.
O veganismo pode ser praticado por qualquer pessoa, independente de idade, sexo, etnia, religião, ideologia etc. Tal postura exige uma transformação de consciência e uma mudança no estilo de vida moderno que procura excluir – tanto quanto possível – as formas de exploração animal.
Felizmente, o veganismo vem, aos poucos, conquistando várias pessoas, sendo feita com entusiasmo e dedicação, disseminando-se pelo mundo. Aqui no Brasil, há veganos(as) como o Dr. George Guimarães e a Dr. Cristhina Izidoro, ambos nutricionistas; os biólogos Sérgio Greif e Thales Tréz (autores do livro “A Verdadeira Face da Experimentação Animal”: ); a socióloga Marly Winckler, presidenta da Sociedade Vegetariana Brasileira e moderadora da lista de discussão “veg-brasil”; a professora universitária Raquel Cristina dos Santos Pereira; o advogado Felipe Chehuan, straight edge e vocalista da banda Confronto; o empresário Christopher Silva; o autor deste artigo e vários outros ativistas... vêm fazendo um bom trabalho de divulgação, cada um fazendo a sua parte com mente aberta e força de vontade.
Os veganos(as) boicotam qualquer coisa que promova a exploração dos animais:

Roupa: usar couro animal, seda, lã, penas e ornamentos com ossos, marfim etc.
Comida: comer carnes, peixes, ovos, consumir leite e seus derivados, mel e outros alimentos de origem animal ou que contenham substâncias de origem animal.
Produtos: usar cosméticos, sabonetes, pastas de dente, perfumes ou qualquer outro produto que tenha sido testado em animais ou que contenha substâncias de origem animal.
Objetos: usar cortinas, tapetes, almofadas, cobertores, travesseiros, escovas, pincéis, vassouras ou qualquer outro objeto que contribua para a exploração dos animais.
Lazer: fotografar com máquinas que não sejam digitais, freqüentar circos com animais, rodeios, zoológicos, farras do boi, rinhas de cães e galos, caçar, pescar ou fazer qualquer outra atividade considerada como lazer que contribua para a exploração dos animais.
Medicamentos: usar remédios, vacinas ou qualquer outro medicamento que tenha sido testado em animais ou que contenha substâncias de origem animal.

9 - A Filosofia do Veganismo

Veganismo é uma filosofia e prática de vida e compaixão, este tipo caminho tem sido seguido por algumas pessoas em todos os tempos da história da humanidade; Através disso, somente recentemente a palavra vegan (VEEGN), foi utilizada para distinguir os vegan dos vegetarianos, e o movimento vegan acabou tornando-se uma sociedade.
A primeira sociedade vegan, foi organizada e fundada em 1944 na Inglaterra. E em 1960, H. Jay Dinshah, fundou a sociedade vegan Americana.
E de lá para cá mais de 50 sociedades fora criada em todo o mundo.
Um vegetariano é alguém que vive basicamente de produtos alimentares do mundo vegetal, com a adição ou sem uso de ovos e leite e derivados. O termo vegetariano refere-se unicamente a um tipo de dieta, e não algum tipo de produto
ou alimento animal.
As razões para se tornar-se um vegetariano, basicamente são 4, ora por questões éticas ou de saúde, economia ou religião ou qualquer combinações destas. A ênfase na América tem sido por questões de saúde e na Inglaterra por questões de Ética.
A questão principal é a ética. Um vegetariano como já sabemos não come nenhuma espécie de carne mas come ovos e leite assim como seus derivados. Um vegan além de não comer nenhuma carne, não come nenhum derivado animal.
A sociedade vegan Britânica dá uma excelente definição sobre Veganismo: "Veganismo é uma forma de vida que exclui todas as formas de exploração e crueldade contra o reino animal. Inclui o respeito por todas formas de vida. Isto se aplica no uso da prática de viver somente de produtos derivados do mundo vegetal."
A exclusão do uso da carne vermelha, de peixes, de aves, ovos, mel, leite ou derivados, encoraja o uso de formas alternativas de produtos vegetais.
Veganismo lembra o homens de sua responsabilidade, pelos recursos naturais e faz com que ele busque caminhos de manter o solo e o reino vegetal saudável, assim como o uso correto dos materiais da terra.
Através desta definição você percebeu que o Veganismo é muito mais do que uma questão de dieta. Vegan é contra a matança, judiar ou explorar os animais.
Vegan é também interessado em ter um excelente padrão físico, emocional, mental e espiritual.
Nós devemos tomar uma decisão importante em selecionar o tipo de produtos que usamos. E cada uma de nossas atitudes através de todas as formas de vida.
Como nós decidimos ou agimos, nós influenciamos circunstancialmente toda a existência e tipos de vida a volta de nós humanos e outros de qual compartilhamos este planeta.
Nós podemos escolher viver em harmonia ou discórdia, em compaixão ou com crueldade (mesmo sem intenção).
Os vegans também não usam produtos derivados de animais como: Lã, couro, peles, ou roupas ou moveis, artezanatos, sabões ou cosméticos que contenham produtos de origens animal, nenhuma escova feita de cabelos, ou travesseiro de penas etc.
Um vegan não pesca, não caça, não aprova o confinamento de animais nos circos ou zoológicos, ou rodeios ou touradas.
Um vegan não se submete a vacinação ou soro feito de animais, ou drogas que foram testadas cruelmente em animais.
Há fortes razões de saúde e Ética contra estas práticas médicas.
Talvez está lista de coisas seja muito difícil de seguir, mas é unicamente para lhe mostrar como é grande e extensa a lista de produtos que normalmente usamos ao longo de nossas vidas, é baseada em produtos ou substancias derivadas de
animais. Principalmente porque o mercado de vendas destes produtos, só pensam em aumentar seus lucros, independente da exploração das pobres criaturas que vive a sua volta.
O curioso é que existem muitas alternativas, mais humanas para qualquer tipo de produtos de origem animal, como vimos no caso da dieta alimentar. Basta estarmos atentos e procurarmos. Na América do Norte e Europa, tem crescido grandemente o comércio de produtos não derivados de animal. Isto tem ocorrido devido, ao aumento de consciência do respeito, ao meio ambiente e, a compaixão a todas as formas de vida. E com a vantagem de trazer crescimento social e econômico.
A preocupação do veganismo é dar maior significado e dignidade a vida, e com a diminuição do sofrimento dos animais o sofrimento da raça humana também será aliviada.
Será isso uma nova forma de vida? Basicamente não, mas é uma forma de expressão do amor, da compaixão e na verdade, é o caminho que traz a harmonia do meio ambiente.

Fonte: Página Vegan - Rio de Janeiro

10 - Por que o Veganismo? Eva Batt

O veganismo sempre ressaltou a necessidade de uma alimentação saudável que respeite os animais. Enfatiza a importância de preservar o solo e o uso correto da terra, para que futuras gerações não a encontrem com erosão, queimada, sem os minerais necessários para uma vida saudável. Os veganos confiam em métodos naturais (alimentação pura, ar fresco, sol, exercício, etc.) ao invés de vacinas e medicamentos para manter corpo e mente saudáveis.
O uso de agrotóxicos e adubos químicos vai contra o princípio do veganismo e a agricultura vegana provou que são desnecessários quando o equilíbrio correto do solo for estabelecido. Frutas e verduras cultivadas com métodos veganos podem ser tão grandes e bonitas quanto aquelas cultivadas sob qualquer outro método. (Obs.: "vegano" não é o mesmo que “orgânico”, que pode utilizar sangue, osso, casco moído, chifre moído e outros sub-produtos animais).
Na visão vegana, também a contaminação da água com esgoto, resíduos industriais ou adição de flúor é contrária aos interesses da comunidade.
Devido à sua fé em Ahimsa (que em sânscrito significa: não matar, não machucar, energia inofensiva), os veganos tendem ao pacifismo e opõe-se a todos os tipos de atividade agressiva. Entretanto, o veganismo não tem ligação com nenhum partido nacional ou internacional. Os veganos podem ser profundamente religiosos, talvez cristãos devotos ou discípulos de uma das várias outras religiões neste mundo. Porém, isso não é requisito do veganismo, que é um estilo de vida preocupado em viver sem machucar os outros.
Há vários caminhos para o veganismo e muitas teorias a seu respeito, mas o veganismo é somente uma única coisa — um modo de viver que evita a exploração, seja ela humana, animal ou do solo do qual dependemos para nossa existência. Alguns são inicialmente atraídos ao veganismo porque desejam melhorar ou recuperar sua saúde; outros estão mais interessados no aspecto econômico, que é de grande importância para todos. Poucos não-vegetarianos avaliam o fato de que muito mais alimentos vegetais do que os alimentos animais podem ser produzidos em uma área igual e no mesmo espaço de tempo adotado de forma geral, o veganismo poderia livrar o ser humano da criação animal com toda a sua crueldade e muitas terras férteis seriam liberadas para ampla produção de alimentos destinados diretamente ao consumo humano.
O maior número de veganos, porém, é daqueles que foram motivados por compaixão a adotar este modo de vida — sem machucar. A maioria foi criada comendo bastante carne, ovos, leite e peixe, porém sentindo, há algum tempo, que esta talvez não fosse a melhor maneira de viver. Mais tarde, talvez uma visita a um mercado de gado ou vendo bezerros recém-nascidos levados ao matadouro (nascerem e serem mortos para que as pessoas possam beber o leite que a Natureza forneceu aos filhotes) levou à decisão de não ser parte disso.
Muitos perguntam porque temos de “ir tão longe” e dizem que o lacto-vegetarianismo, por enquanto, é suficiente. Infelizmente, poucos vegetarianos, em nossa experiência, realmente se dão conta do nível atual de crueldade — não por falta de sentimento, mas por falta de interesse e compreensão. Diferente dos veganos, um grande número de vegetarianos estão principalmente preocupados com a saúde e aceitam o abate de animais na produção de carne, couro, queijo, etc. Em nossa opinião, não importa para o animal inocente se será abatido para fornecer comida, medicamentos, roupa, esporte, objetos de luxo como ornamentos de marfim, bolsas de pele de jacaré ou um perfume exótico.
A morte súbita no auge da vida, com freqüência, também significa a morte lenta para os filhotes. Às vezes, o filhote (ou sua pele) é visado pelo homem. O que a foca-mãe sente quando vê os restos sangrentos de seu filhote — golpeado e rapidamente esfolado — provavelmente não é diferente da angústia da vaca doméstica ao perder seu bezerro recém-nascido.
A maioria das pessoas, ao iniciar uma alimentação lacto-vegetariana, aumenta seu consumo de laticíneos e ovos; isso significa que qualquer alívio do sofrimento para os animais existe mais na esperança do que no fato. É surpreendente ficar sabendo quantos vegetarianos não se dão conta de que o coalho utilizado para fermentar o queijo é obtido do estômago de um bezerro recém-abatido. Esses queijos, obviamente, não são lacto-vegetarianos e sentimos que essas contradições deveriam ser bem mais divulgadas. Se fôssemos comparar graus de crueldade, ficaria claro que, de todos os “animais para alimentos”, a vaca sofre muito mais do que o gado de corte.
Durante toda sua vida, esse animal de olhos bondosos, dócil, é considerado simplesmente como uma máquina leiteira. Ela é "estimulada" por hormônios, tratada com antibióticos e outros medicamentos e ainda tem de sofrer os horrores do matadouro quando por fim se torna improdutiva.
Os produtos como biscoitos, bolos, massas prontas, pastéis, pudins, sopas enlatados, etc., são suspeitos. Provavelmente contêm: manteiga, leite, mel, queijo, gorduras animais ou ovos. Além disso, do ponto de vista nutricional, são inferiores aos alimentos frescos, porque foram super-cozidos ou processados de alguma forma e porque provavelmente contém alguns dos 800 aditivos usados na alimentação, como corantes, adoçantes, estabilizantes, espessantes, conservantes, aromatizantes etc. Um conselho útil para iniciantes é: ”Se não pode comê-lo cru, deixe-o de lado!” Por vários motivos, uma pessoa talvez não possa mudar da noite para o dia para uma alimentação inteiramente crua. Porém, comer bastante alimentos crus é necessário para a saúde.
Oferecer, de vez em quando, uma boa sopa caseira, verduras cozidas de forma tradicional, pão integral ou batatas assadas com casca, vai acrescentar variedade às saladas verdes, frutas frescas, nozes e grãos (estes últimos facilmente germinados com resultados excelentes), a base da boa alimentação vegana.
Mas o veganismo não está somente preocupado com a alimentação. Os veganos deploram o abatimento ou a exploração de qualquer animal, qualquer que seja o motivo:
COMIDA — Carne, peixe, aves, ovos, leite, manteiga, queijo, creme, toicinho, mel e todos os produtos que contenham qualquer um destes ingredientes.
ROUPA — Lã, couro, seda, pele de répteis, etc.
ORNAMENTO — Peles, penas, pérolas, marfim etc.
COSMÉTICOS — Sabonetes e cremes que contenham óleos ou gorduras animais e os ingredientes de perfumes, obtidos de animais em condições muito cruéis.
PRODUTOS DOMÉSTICOS — Tapetes ou carpetes de pele e lã, cobertores de lã, travesseiros de penas, escovas e vassouras de pêlo, óleos, graxas, polidores etc. que contenham gorduras animais.
ESPORTE — Caça, corrida, tiro, pesca etc.
ENTRETENIMENTO — Circos e todos atos que incluem a apresentação de animais ou pássaros; zoológicos onde animais livres são aprisionados. Parques nacionais e reservas naturais são opções muito melhores.
MEDICAMENTOS — Vacinas, soros etc. produzidos usando animais, sem esquecer que milhares deles são utilizados em experiências para “testar” todo tipo de medicamentos e cosméticos.
Isto é uma lista enorme que deve mostrar o quanto nos acostumamos a usar substâncias animais e a explorar todos os pobres animais dos quais o homem pode extrair lucro.
Além dos efeitos imediatos, os veganos consideram esse estilo de vida um dever para futuras gerações. Vai levar muito tempo, no atual ritmo de progresso, para desfazer o resultado de erros passados — se é que isso é possível! Entretanto, quaisquer que sejam nossas ações, serão nossos herdeiros, mais do que nós, que colherão os resultados, bons ou ruins, daquilo que fazemos hoje, amanhã e depois, até deixar para eles — o quê? Um deserto, a destruição ou um jardim abundante?
A decisão é sua e é minha.

Fonte: O livro "Here´s Harmlessness — an Anthology of Ahimsa", da American Vegan Society, 1993

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11- "Por que protetores de animais comem animais?"

A Dra. Paula Brügger é professora do Deptº de Ecologia e Zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde leciona "Conservação de Recursos Naturais" e "Meio Ambiente e Desenvolvimento". Graduou-se em Biologia e fez especialização em Hidroecologia. Fez seu mestrado em Educação, "Ciência e Educação", e doutorado em Ciências Sociais, "Sociedade e Meio Ambiente". Coordena o projeto de educação ambiental "Amigo Animal" - oferecido para escolas das redes municipal e estadual como tema transversal. É ativa na defesa dos animais como voluntária da ONG "Sociedade Animal". Foi, durante quatro anos membro do "Comissão de Ética no Uso de Animais" - (CEUA).

É autora do livro "Educação ou adestramento ambiental?" que está indo para sua terceira edição este ano, e em breve estará publicando um novo livro sobre educação ambiental onde o relacionamento entre seres humanos e "outros animais" é o foco que norteia uma ampla discussão sobre o relacionamento entre nossa sociedade e o ambiente. Paula Brügger também é ativa na defesa do ambiente tendo assessorado muitas vezes o Ministério Público Federal na luta contra projetos de pseudo-desenvolvimento que além de promoverem exclusão social, destróem a natureza como habitat para uma infinidade de espécies, transformando-a num mero meio para se atingir um fim, uma visão totalmente antropocêntrica.

A Dra. Paula apresentará no 36o Congresso Vegetariano Mundial a seguinte palestra:

"Por que protetores de animais comem animais?"

A história da nossa espécie - Homo sapiens -, sobre a Terra é marcada por uma progressiva ruptura entre nós e o entorno, como nos ensina Milton Santos. Essa afirmação, verdadeira sobretudo para as sociedades industriais, nos obriga a refletir, entre muitas outras questões, sobre o fato de estarmos nos distanciando cada vez mais dos processos produtivos que fabricam diversos itens e produtos que consumimos no nosso dia-a-dia. Isso significa que pouco sabemos sobre o custo ambiental, social, etc, da maior parte desses produtos. Por exemplo, para ter acesso à eletricidade basta tocar o interruptor, e para saborear um pedaço de carne, basta escolher um bom corte no supermercado. Mas o processo de produção de diversos produtos que consumimos quotidianamente pode ser bastante predatório em muitos sentidos.
Nossa dieta alimentar, por exemplo, pode ser geradora de grandes impactos sociais e ambientais, dependendo se ela é basicamente vegetariana ou carnívora (rica em proteína animal, em geral). As dietas essencialmente carnívoras provocam hoje gigantescos impactos sociais e ambientais como destruição de habitats e perdas de biodiversidade; consumo exacerbado de recursos naturais renováveis e não renováveis (como água, solo, petróleo); poluição; destruição de pequenas propriedades rurais e exclusão social; além de estar associada com o aumento de incidência de diversas doenças como as cardiovasculares, obesidade, câncer, etc. Todas essas razões seriam suficientes para abdicarmos de uma dieta rica em proteína animal, pois tal dieta é insustentável. Entretanto, a questão central deste grupo de trabalho é o sofrimento infligido aos animais que são criados e abatidos para consumo humano. Enfim,

Por que é tão comum protetores de animais comerem carne?

A resposta, me parece, está pelo menos em parte ligada a essa ruptura entre nós e o entorno. Embora possamos prescindir de carne e outras formas de proteína animal para garantir uma boa saúde, muitos protetores de animais ainda comem carne unicamente porque, de um lado, não têm que matar o animal com suas próprias mãos, e de outro, desconhecem todos os sofrimentos por que passam tais animais antes de chegar às suas mesas. Em outras palavras, vale a velha máxima: "o que os olhos não vêem, o coração não sente".
A relação seres humanos-animais pode ser tratada sob inúmeros aspectos: tráfico de animais; alimentação rica em proteína animal; uso de animais em ensino e pesquisa; uso de animais em circos, rodeios, etc, animais de rua, e muitas outras. A questão dos animais de rua é sem dúvida um dos principais focos de atuação da maior parte das ONGS que têm como objetivo o amparo e a proteção dos animais, e é um problema muito mais visível, pois os animais abandonados estão sofrendo diante de nossos olhos. Esse problema é, entretanto, apenas a "ponta do iceberg", quando se trata da relação entre nós e os animais.
Além dos inúmeros problemas sociais e ambientais antes apontados, cada vez que nos sentamos à mesa estamos compactuando, ou não, com a exploração e sofrimento de milhares de animais. Embora esse sofrimento não esteja diante de nossos olhos, a verdade é que diversos outros seres sencientes, isto é - capazes de experimentar prazer, dor e outras sensações -, passam suas breves vidas confinados em condições deploráveis para depois serem abatidos e nos servir de alimento. Porcos, frangos, bezerros, perus e muitos outros animais são brutalmente mutilados antes de virar comida: seus rabos e bicos são cortados ou queimados para evitar o canibalismo e/ou para que não possam escolher parte de seu alimento; são castrados sem anestesia; são transportados para os matadouros sem água ou alimento suportando temperaturas extremas, etc. O sofrimento pode ser tanto que em muitos casos - como o dos bezerros criados para produzir vitela -, o abate, ou seja a morte, é quase que uma redenção, já que marca o fim de uma vida absolutamente miserável. Há ainda muitas outras formas de sofrimento impostas a animais que não são criados em cativeiro como a separação entre mães e filhotes, a separação de rebanhos, as marcas com ferro em brasa, e outros sacrifícios que não levam em consideração os interesses dos animais, como argumenta o filósofo Peter Singer.
Mas será correto submetermos seres sencientes a todo esse sofrimento para deles tomamos carne, ovos, leite ? Serão os animais nossos companheiros de jornada na Terra, ou meros recursos para nos servir e atender nossos desejos hedonistas ? A triste realidade é que em nossa sociedade os animais estabulados e de granja deixam de ser seres vivos e se tornam meros objetos, no caso, meros containers de proteína. É patético pensar, por exemplo, que a idade em que porquinhos são abatidos, é a mesma época em que, em outras condições, esses mamíferos inteligentes estariam brincando animadamente, tanto quanto nossos cães e outros animais de estimação. De fato, o mesmo tratamento considerado "normal" ou "aceitável" para muitos animais que nos servem de alimento, é considerado cruel e suficiente para dar voz de prisão, quando aplicado aos nossos animais de estimação. O Decreto Lei 24.645/34, por exemplo, que estabelece medidas de Proteção aos animais, prevê como crime uma série de situações de sofrimento que ocorrem corriqueiramente com animais submetidos a processos de produção industrial, mas isso jamais impediu que tais sofrimentos fossem impostos aos animais.
Se tratamos cães e gatos com carinho e amor, mas não nos sensibilizamos com o sofrimento de outros animais, estamos sendo injustos. Não somos mais caçadores-coletores e temos à nossa disposição uma ampla variedade de fontes de proteína que nos garantem uma alimentação balanceada. Portanto, pelo menos no que diz respeito à maior parte da população urbana do mundo, a carne e outras formas de proteína animal podem ser consideradas um luxo já que é possível prescindir de seu consumo. O tratamento diferente que damos a cães e porcos, por exemplo, fere o princípio ético da igualdade, entendida como igual consideração de interesses. Ser passível de sofrimento é a característica que diferencia os seres que têm interesses - os quais deveríamos considerar -, dos que não os têm. Enfim, a condição de "senciente" é suficiente para que um ser vivo seja considerado dentro da esfera da igual consideração de interesses.

Para finalizar, gostaria de citar uma passagem famosa de Peter Singer:

"Ao refletirmos sobre a ética do uso de carne animal para a alimentação humana nas sociedades industrializadas, estamos examinando uma situação na qual um interesse humano relativamente menor deve ser confrontado com as vidas e o bem-estar dos animais envolvidos. O arrazoado contra o uso de animais para a nossa alimentação fica mais contundente nos casos em que os animais são submetidos a vidas miseráveis para que sua carne se torne acessível aos seres humanos ao mais baixo custo possível. As formas modernas de criação intensiva aplicam a ciência e a tecnologia de acordo com o ponto de vista segundo o qual os animais são objetos a serem usados por nós. Para que a carne chegue às mesas das pessoas a um preço acessível, a nossa sociedade tolera métodos de produção de carne que confinam animais sensíveis em condições impróprias e espaços exíguos durante toda a duração de suas vidas. Os animais são tratados como máquinas que transformam forragem em carne, e toda inovação que resulte numa maior 'taxa de conversão' será muito provavelmente adotada. Como afirmou uma autoridade no assunto, á crueldade só é admitida quando cessam os lucros'. Para evitar o especismo, devemos por um fim a essas práticas" (Singer, 1998, p.73; grifos meus)".

http://www.pelosanimais.org/faq/15/

12- O que é o movimento pelos direitos dos animais?

O movimentos pelos direitos dos animais é um movimento de justiça social, tal como o foram (ou são ainda) o movimento pela abolição da escravatura, o movimento pelos direitos das mulheres e, mais recentemente, o movimento pelos direitos dos homossexuais.
Os direitos dos animais, advogados pelo movimento pelos direitos dos animais, conferem aos animais certos privilégios ou regalias e impõem aos humanos determinadas restrições na forma como interagem com os animais.
À semelhança do que sucede com os direitos humanos, é uma consequência dos direitos dos animais que não podemos maltratar os animais sem motivo, tal como não podemos maltratar uma pessoa apenas porque nos apetece.
O movimento pelos direitos dos animais opõe-se ao tratamento cruel dos animais, à sua utilização para alimentação dos humanos, à sua exploração para entretenimento dos humanos, bem como a quaisquer outras formas de exploração dos animais.

Quais são as bases científicas para reconhecer direitos aos animais?

O movimento pelos direitos dos animais tem fortes bases científicas, bases essas que tendem a fortalecer-se cada vez mais à medida que a ciência avança, tabus se desfazem, e se comprova que os animais são, em muitos aspectos fundamentais, idênticos a nós.
Poderá dizer-se que a ciência começou a dar razão a quem reconhece direitos aos animais com as descobertas de Darwin, no século XIX, quando este afirmou que os humanos partilham a sua ascendência com os primatas, não sendo o resultado de nenhuma criação especial, como se acreditava até então. Hoje, está cientificamente comprovado que muitos animais, ditos sencientes, têm a capacidade de experimentar diversas sensações. Tal como os humanos, esses animais podem alegrar-se ou entristecer-se, ter desejos, recordações, e agir de modo intencional.
No entanto, a ciência tem sido também um grande obstáculo ao movimento pelos direitos dos animais, como o foi ao movimento pelo fim da escravatura, por exemplo. Agora e então, a ciência é usada por alguns para alimentar preconceitos e assim se manter o status quo.

Quais são os objectivos do movimento pelos direitos dos animais?

O movimento pelos direitos dos animais pretende garantir que os animais sejam tratados com o respeito que *merecem*, defendendo a abolição de todas as formas injustificadas de exploração dos mesmos por parte dos humanos.

Alguns dos principais objectivos são:

Abolição da exploração e abate de animais para consumo humano ou uso (advogando o vegetarianismo).
Fim da exploração de animais para entretenimento dos humanos (por exemplo, circos com animais ou touradas).
Abolição da experimentação em animais (experimentação com fins comerciais e eventualmente experimentação científica e médica).
Dependendo da interpretação de cada um (ou de cada organização de defesa dos direitos dos animais), os objectivos podem variar bastante (tornando-se mais ou menos radicais). Pela nossa parte, não defendemos as ideias mais radicais dentro do movimento pelos direitos dos animais (como, por exemplo, condenar a esterilização dos animais de companhia, muito pelo contrário).

Qual é a diferença entre direitos dos animais e bem-estar animal?

A política de defesa do bem-estar animal admite que os animais sejam utilizados pelos humanos como meios para atingir os fins desejados, mas advoga que sejam dadas melhores condições aos animais (as condições mínimas de bem-estar).
Por exemplo, a filosofia de bem-estar animal defende que os animais abatidos para consumo humano sejam mortos de foram mais humana (i.e., com menos sofrimento), enquanto que, segundo a filosofia dos direitos dos animais, não se justifica de todo que os animais sejam abatidos para consumo humano.
Tomando por exemplo a escravatura, a política de bem-estar animal pode ser comparável à política que defendia que os escravos deviam ser tratados de forma mais humana (mas que pretendia ao mesmo tempo legitimar e perpetuar a escravatura), enquanto que a política dos direitos dos animais pode ser comparada à política abolicionista que considerava inaceitável a escravatura (independentemente do tratamento dos escravos ser mais ou menos humano).

Pode a defesa dos direitos dos animais ser conciliável com a defesa do bem-estar animal?

Com certeza. Quem defende os direitos dos animais defende geralmente também o bem-estar animal (embora o inverso não seja tão comum).
A questão fundamental é que quem advoga os direitos dos animais não concorda com *algumas* estratégias ou políticas de bem-estar animal por estas não serem consideradas adequadas aos objectivos do movimento; ou por se considerar que determinadas acções ou campanhas estão a legitimar ou a contribuir para a institucionalização de determinadas práticas de exploração animal.
Por exemplo: um defensor dos direitos humanos não faz campanha para que os condenados à morte tenham direito a uma morte mais indolor. Faz, sim, campanha pelo fim da pena de morte (embora obviamente também concorde que a morte de um condenado deve ser o mais indolor possível). Do mesmo modo, um defensor dos direitos dos animais não faz campanha para que os animais do circo tenham jaulas maiores mas sim para que sejam retirados do circo e possam viver num habitat mais próximo do seu habitat natural.

Qual é a natureza do movimento pelos direitos animais? Trata-se de um movimento pacifista ou violento?

O movimento pelos direitos dos animais, tal como nós o entendemos, é um movimento que tem a não-violência como princípio fundamental, inspirado nos exemplos de Gandhi e Martin Luther King.
Combater a violência com violência é uma luta sem sentido e um enorme contra-senso. Nós não só não advogamos quaisquer acções violentas, como as reprovamos e consideramos contraproducentes.

Se os animais tivessem direitos, não teriam já os cientistas, os líderes de opinião e os políticos reconhecido esses direitos?

Não necessariamente. Convém ter presente que há poucos anos atrás as mulheres não tinham o direito de votar. E quem lutava pelos seus direitos senão elas próprias?
Recuando mais alguns anos, chegamos ao tempo da escravatura, em que aquilo que agora nos parece abominável era considerado perfeitamente normal e aceite pela população em geral (sendo inclusive justificado pela ciência e pela religião).
No entanto, hoje em dia são já muitos os que defendem os direitos dos animais, notavelmente, muitos dos principais filósofos na área da ética aplicada.
Muitos de nós que defendemos os direitos dos animais acreditamos que, tal como disse Leonardo da Vinci, chegará o tempo em que o assassínio de animais será condenado pela generalidade da população do mesmo modo que é condenado o assassínio de humanos. Infelizmente, esse tempo ainda não chegou...

E quanto aos direitos dos insectos? Não tem uma pulgas os mesmos direitos que um cão? Onde está a justiça e a coerência ao respeitar uns e não respeitar outros?

O que a justiça nos diz é que, para não fazermos discriminação, devemos dar igual consideração de interesses às partes em causa. Por exemplo, uma pessoa com deficiência mental profunda, não tem direito de votar, no entanto, essa pessoa não está a sofrer discriminação ao ser impedida de votar -- ela simplesmente não tem qualquer interesse em votar já que não sabe o que isso é.
Um cão é um ser muito mais complexo a nível psicológico e a nível de sistema nervoso do que uma pulga, por exemplo. Por conseguinte, o que seria injusto seria dizer que merecem um tratamento exactamente idêntico quando eles são claramente muito diferentes.
Isto não quer dizer que devam maltratar insectos, nem tão-pouco quer dizer que se tem de analisar a inteligência e o sistema nervoso de um animal antes de decidir se merece que o respeitemos ou não. Quer simplesmente dizer que uma pessoa pode coerentemente defender os direitos dos animais sem defender os "direitos para os insectos" e, como na maioria das coisas na vida, um pouco de bom-senso não faz mal nenhum.

Os direitos exigem deveres. Logo, dado que os animais não têm deveres, não podem ter direitos.

Não é verdade que os direitos exijam deveres. As crianças de tenra idade, por exemplo, não têm deveres mas daí não deduz que lhes possamos bater só porque nos apetece. As pessoas com deficiência profunda não têm deveres mas daí não se deduz que as possamos utilizar para fazer experiências científicas. Do mesmo modo, o facto dos animais não terem deveres não é de modo algum suficiente para concluir que não têm direitos

Não é verdade que a maioria das pessoas ligadas ao movimento pelos direitos dos animais se guiam pela emoção e não pela razão? Não é verdade que na sua maioria são pessoas anti-humanas, ilógicas e fanáticas?

Como em todo o lado, também temos a nossa quota parte de maluquinhos, mas não é de modo algum verdade que a maioria das pessoas neste movimento sejam anti-humanas, ilógicas ou fanáticas. Tão-pouco é verdade que as pessoas que acreditam nos direitos dos animais se deixem levar apenas pela emotividade. É verdade, isso sim, que a maioria das pessoas neste movimento são pessoas bastante sensíveis ao sofrimento dos outros e foi essa sensibilidade que trouxe muitas delas para este movimento. Mas outros houve que se juntaram ao movimento dos direitos dos animais porque, ao ouvirem ou lerem sobre o mesmo, reconheceram que se tratava de uma questão de justiça.
É importante salientar que esta tentativa de descrédito do movimento pelos direitos dos animais parte quase sempre de pessoas que de algum modo estão ligadas à indústria da carne, à indústria da experimentação animal, ou a qualquer outra forma de uso de animais que seja colocada em causa por este movimento. Como lhes faltam os argumentos que refutem os princípios do movimento, estas pessoas viram-se para os argumentos ad hominem, fazendo mesquinhos ataques àqueles que estão envolvidos no movimento pelos direitos dos animais e procurando assim ridicularizá-lo.

Ninguém gosta tanto de animais como eu, mas isso deles terem direitos é uma treta!

Respeitar os direitos dos animais não tem nada a ver com gostar de animais. Da mesma forma que nós não precisamos de gostar de uma pessoa para a respeitar, também não precisamos de gostar dos animais para os respeitarmos. E os animais precisam acima de tudo que os respeitemos. Mas, claro, se gostarmos deles tanto melhor!
A única coisa que nos diz que é errado explorar um animal independentemente de este ter um dono ou não, de ser bonito ou feio, dessa exploração ser ou não útil a alguém, mas apenas porque esse animal sofre se for maltratado, são os direitos dos animais -- daí a importância de reconhecer que os animais têm direitos.

Virá o tempo em que as pessoas civilizadas olharão para trás com horror para a nossa geração e aqueles que a precederam: a ideia de comermos outros seres vivos que se movimentam em quatro patas, de os criarmos apenas para os matar! As pessoas do futuro dirão enojadas "comedores de carne!" e irão julgar-nos da mesma forma que julgamos os canibais e o canibalismo.
Dennis Weaver

É verdade que para o movimento pelos direitos dos animais não há diferença entre animais não-humanos e humanos?

Não. Existem seguramente muitas diferenças entre os animais não-humanos e os humanos. O que a filosofia dos direitos dos animais diz é que em *muitos* aspectos fundamentais os animais são idênticos a nós e que isso é suficiente para que tenham determinados direitos.
O facto de a vida humana ser unicamente valiosa, como muitos crêem, não é razão suficiente para dizer que os humanos são superiores a qualquer outra forma de vida. Muito provavelmente existirão formas de vida extraterrestre mais avançadas e inteligentes do que nós, e nós seguramente não gostaríamos que eles -- por se considerarem superiores a nós -- se sentissem no direito de nos explorar ou nos comerem assados na brasa.

Deus amava os pássaros e inventou árvores. O Homem amava os pássaros e inventou as gaiolas. Jacques Deval

Não são os seres humanos os únicos animais que usam ferramentas, os únicos que usam linguagem e os únicos que têm uma cultura?

É possível argumentar que existem chimpanzés capazes de utilizar ferramentas; que golfinhos, chimpanzés e outros animais podem usar uma linguagem para comunicar; e que alguns gorilas e macacos demonstram passar certos aspectos culturais de geração em geração. Essas características não são, portanto, exclusivas dos humanos. Contudo, nós também não fazemos depender dessas características o reconhecimento de direitos básicos, como o direito a não sofrer, pois no que toca a esses direitos, é irrelevante saber se os animais podem ou não usar ferramentas, por exemplo (do mesmo modo que nenhuma pessoa razoável defenderia a utilização de humanos que não soubessem usar ferramentas para experimentação científica).

O movimento pelos direitos dos animais defende a chamada acção directa?

Algumas pessoas ou organizações no movimento pelos direitos dos animais defendem esse tipo de acções.
Em geral, a nossa posição é contrária à acção directa não só porque tais acções recorrem usualmente à destruição de propriedade e por vezes implicam acções violentas, mas também porque apenas contribuem para marginalizar mais o movimento pelos direitos dos animais aos olhos da sociedade, sendo, como tal, contraproducentes.

O que dizer da maior organização de defesa dos direitos dos animais, a PETA?

A PETA (peta.org), sendo a maior e mais poderosa organização de defesa dos direitos dos animais em todo mundo, tem a simpatia e admiração de muitos daqueles que defendem os direitos dos animais.
No entanto, na nossa opinião, a PETA (e as organizações e pessoas que a imitam) contribui em grande medida para o descrédito e ridicularização do movimento pelos direitos dos animais ao fazer passar a ideia de que os fins justificam os meios e ao recorrer constantemente a campanhas sensasionalistas.

13- Conclusões sobre a covardia com os animais (Márcio Bontempo)

"Quanto mais eu vejo animais serem mortos para virarem comida, mais eu entendo porque a McDonald´s engana as criancinhas fazendo-as crer que hambúrgueres crescem em árvores, já nos saquinhos."
John Robbins

Animais não nos dão a vida como contam as historinhas ou como os desenhos animados e a propaganda em folhetos escolares procuram mostrar. Nós tiramos as suas vidas. Eles lutam até o fim para fugir da morte, do mesmo jeito que faríamos se estivéssemos em seu lugar.
O porco, dócil e inteligente, não aceita a morte simplesmente pensando que ela é apenas mais um passo na produção de bacon; portanto, será difícil vê-lo cantando alegremente como nos anúncios dos produtores de salsichas.
As galinhas não se aproximam dançando alegremente da faca que irá matá-las, tentando nos mostrar como vai ser gostoso saborear uma de suas coxas.
A gentil e paciente vaca não se rende docilmente à marreta ou à faca; ela se agita e pula como pode para se livrar do gancho que prende uma de suas pernas, que foi quebrada e pendurada a uma corrente.
Os indivíduos que matam os animais são chamados de profissionais. Eles alegam que simplesmente estão realizando um trabalho ordinário (aqui, para nós, no duplo sentido), mesmo que isso envolva o assassinato de milhões de criaturas inocentes. Eles consideram “natural” o que fazem. Se isso é natural, que Deus os ajude.

Os produtores de leite nos EUA costumam fazer propaganda. Uma delas mostra uma simpática vaca sorrindo, enquanto uma suave voz masculina avisa, em off, que o leite dessa empresa é proveniente de vacas felizes. Talvez ele esteja se referindo ao efeito dos tranqüilizantes e antidepressivos que esses animais recebem regularmente para combater a tristeza dos ambientes onde são criados.

Fonte:Alimentação para um Novo Mundo - Página 115

Por fim, "Os animais são meus amigos... e eu não como os meus amigos" George Bernard Shaw

Saúde e Paz - Marcio Bontempo

14- Por quê estamos remando contra a corrente ? Por Michelle Rivera

A maioria de nós, que estivemos envolvidos com o ativismo pelos direitos animais ha mais tempo, estamos mais ou menos familiarizados com todas as pessoas famosas que têm sido citadas pelas suas opiniões sobre os direitos animais. Mesmo que Winston Churchill não seja uma dessas pessoas famosas, há uma frase que é creditada a ele que poderia ser interpretada como uma verdadeira amostra do sentimento daqueles envolvidos com a defesa dos direitos animais.
Winston Churchill disse: "Os homens às vezes tropeçam na verdade, mas na maioria das vezes se levantam e saem apressadamente como se nada tivesse acontecido."
O que torna essa frase tão significativa para o movimento dos direitos dos animais é que ela descreve sucintamente a muralha que muitos de nós enfrentamos quando tentamos informar nossos amigos, colegas de trabalho e familiares queridos.
Quantas vezes ouvimos "Eu gosto de animais" partindo de uma pessoa que tem várias peças de peles e couro no guarda-roupa, dona de um cachorro de raça comprado em loja de animais, e ainda por cima comendo um cachorro-quente ? Muitas pessoas decentes, pessoas que nós conhecemos, nunca teriam idéia de maltratar deliberadamente ou colocar um animal em perigo. Mas mesmo assim, elas não acham nada de errado em ir a um circo, comprar um animal de uma loja de animais e, claro, comer um Big Mac.
Nós temos feito campanhas, anúncios, usado camisetas com slogans e temos exibido fotos, filmes e livros sobre a crueldade contra os animais. Mas mesmo assim, por incrível que pareça, eles ainda comem carne, ainda vestem couro, ainda bebem leite e ainda frequentam eventos de exploração de animais. Essas pessoas não são monstros. Elas viram a verdade e de alguma maneira foram capazes de "sair apressadamente como se nada tivesse acontecido".
O que nos torna diferente deles ? Como é que podemos assistir uma filmagem de um abatedouro e jurar que nunca mais comeremos carne enquanto alguém que estimamos pode assistir o mesmo vídeo sem nenhuma consequência ? Quantos de nós temos visto as cadelas de ninhada nas "fábricas de cãezinhos" e a imundície onde elas vivem, e sofrido com isso enquanto outros parecem não ser afetados ? Agora que sabemos, sem dúvida nenhuma, como os elefantes de circo são tratados, por quê é que nós não conseguimos nos divertir nos circos enquanto outros ficam indiferentes à crueldade ?
Aquilo que é aprendido não pode ser esquecido. Será que as pessoas não envolvidas com os direitos dos animais, os "outros" é que escolhem não aprender ? Eu tenho uma amiga que é enfermeira e trabalha em uma clínica ginecológica. Ela é uma boa pessoa, resgata animais abandonados, não veste couro, gosta de cães e gatos de todos os tamanhos e raças e jamais maltrataria um animal.
Um outro dia eu disse à ela que estava ajudando em uma campanha contra o Premarin, uma droga que repõe o estrogênio usada por muitas mulheres nos EUA para aliviar os sintomas após a menopausa. O Premarin é produzido à partir da urina das éguas grávidas, que são acorrentadas e presas a um equipamento que recolhe a urina durante toda o período de gestação sem que sejam permitidas se deitar e andar, entre outras várias condições cruéis. Há outros substitutos para o estrogênio que têm o mesmo efeito e, sendo extraídos da soja e da batata doce mexicana ou sintetizados em laboratório, tornam totalmente dispensável a exploração dos animais.
Eu estava tirando fotos de todos os meus amigos com um cartaz famoso da PETA dizendo "Eu não vou usar Premarin !" e enviando as fotos para a Wyeth-Ayrst Laboratories, "fabricante" do Premarin. Ela na mesma hora falou "Ah, não me conte nada ! Eu tomo Premarin e não quero saber !"Últimas palavras famosas: "eu não quero saber" ... Claro que não quer saber. Eu também não quero saber. Mas eu procuro saber, e agora que eu sei, não posso voltar atrás e deixar de saber. A ignorância é uma benção.
O filho dessa amiga, já maior de idade, é um ativista pelos direitos dos animais e eu pedi ajuda a ele. Eu entreguei os materiais para que ele desse à sua mãe e pedi que ele se certificasse de que ela leria. Como ela poderia ignorar o próprio filho ? Bem, ela não apenas parou de tomar Premarin, mas conseguiu que o médico dela parasse de prescrever Premarin para seus outros pacientes também.
Se eu tivesse apenas respeitado seu desejo de "não saber", ela e todos os outros pacientes continuariam a consumir Premarin, e as éguas continuariam a sofrer por isso.
A maioria de nós não tenta ir tão longe para ensinar a um amigo algo que ele não quer aprender porque não queremos arriscar perdermos a amizade. De fato, vários de nós tivemos amigos e os perdemos por causa das questões que tentamos discutir mas não podemos porque "eles não querem saber". E como podemos lutar contra a indústria do leite e derivados quando eles já convenceram o público de que nós "temos" que tomar leite para sobreviver ? Quando lemos a literatura sobre o leite e os hormônios de crescimento bovino, sabemos como o consumo do leite contribui para o cruel mercado da carne de vitela, e os argumentos fazem sentido para nós, mas mesmo assim quando tentamos passar a informação adiante, descobrimos estar lutando contra uma crença tão arraigada que é até considerado loucura pensar o contrário.
A vaquinha Risoleta vive feliz ! Claro, olhe o sorriso dela na embalagem ! O motivo pelo qual as pessoas são lentas em aceitar a filosofia dos direitosdos animais é porque isso significa que elas terão que mudar e isso as deixa desconfortáveis. Nós, humanos, temos grande habilidade e nos esforçamos muito para resistir às mudanças. Nós usamos leite no cereal, comemos hambúrgueres nos fins de semana e peru no Natal. É parte do nosso estilo de vida. Não queremos desistir disso e nos tornarmos "diferentes", então fechamos os olhos para a verdade.
Falamos para eles sobre o leite de soja, o tôfu e os hambúrgueres vegetais e eles torcem o nariz e dizem "detesto" sem mesmo experimentar ! Eles dizem que detestam esses alimentos saudáveis, livres de crueldade contra animais ao mesmo tempo que entopem seus estômagos com cadáveres de animais cheios de bactérias ! Mas uma vez que vemos como os animais são mortos para o nosso deleite gastronômico, nosso conforto e nosso entretenimento, não podemos nunca mais negar que se não somos parte da solução, nós somos parte do problema.
Os "direitos animais" significam que animais têm o direito de fazer o que sua natureza dita sem interferência dos humanos. Nós não temos de sequer amar os animais para acreditar que eles deveriam ter os mesmos direitos que qualquer outro ser senciente tem. E os animais muitas vezes não são amáveis mesmo ! É só ver os filmes mostrando os leões estraçalhando uma zebra, ou as várias orcas atacando ferozmente as focas e você verá que os animais podem também causar horror. Assim, aqueles que dizem "eu gosto de animais" na verdade ainda não captaram a idéia, porque animais não estão pedindo para serem queridos, eles querem apenas respeito. E merecem respeito porque são seres sensíveis à dor, porque eles estão no mundo com um objetivo (viver), e merecem nossa tutela e proteção.
Existiu uma época em que a escravidão fazia parte do estilo de vida de nossa civilização. As pessoas livres que lutaram pela libertação dos escravos não o fizeram por "amor" aos escravos, elas o fizeram porque reconheciam e respeitavam o direito que todas as pessoas têm de serem livres.
Nunca deixe alguém "se levantar e sair apressadamente como se nada tivesse acontecido". Continue falando em defesa dos animais. Insista em dizer a verdade. A verdade vai, ao seu tempo certo, prevalecer e libertar os animais.

15- O Movimento pelos Direitos dos Animais autor desconhecido - tradução Fernando Mendes (fmendes@email.com)

"Toda a vez que recusamos uma visita ao circo porque os elefantes são forçados a se equilibrar em bolas, e porque chicotes são estalados para obrigar os tigres a pularem através de aros em chamas, ou porque os cavalos, uma vez nobres quando em liberdade, são forçados a dançar e vestidos com ridículas plumas arrancadas de avestruzes;

Toda a vez que dizemos "NÃO" à ingestão de cadáveres carbonizados de galinhas, perus, patos, vacas, bezerros, porcos e ovelhas, ou nos recusamos a nos comprometer pelo consumo de ovos, leite e queijo porque eles são os subprodutos dos açougues;

Toda a vez que contestamos os privilégios que alguns cientistas se atribuem de manter inúmeros animais em cativeiro para usar como ferramenta de pesquisa, infligindo dor e sofrimento deliberadamente sem a mínima consideração sincera e significativa pelo bem estar físico e psicológico de suas vítimas;

Toda a vez que desafiamos o status legal dos animais como propriedade, o qual permite inúmeros atos terríveis de crueldade por parte de indivíduos e legitimiza a exploração comercial institucionalizada dos animais por toda a parte;

Toda a vez que afirmamos que os animais são indivíduos sensíveis com seus próprios direitos inatos à vida, à liberdade e à busca da felicidade;
Nesse momento é que então nós nos tornamos a liderança do movimento pelos direitos dos animais. Todos nós lideramos o movimento pelos direitos dos animais
A cada vez que agirmos em prol dos animais nos tornaremos seus representantes, e todos irão julgar nosso comprometimento com os animais e a sinceridade de nossas convicções baseando-se nos nossos atos, comportamento, linguajar e aparência.

A cada vez que agirmos pelos animais fazendo demonstrações públicas, resgatando um animal abandonado, escrevendo uma carta aos jornais, visitando órgãos governamentais, participando de votações, lendo um livro sobre direitos animais, fazendo uma doação à algum abrigo, assistindo a um documentário e nos oferecendo como voluntários em alguma atividade em prol dos animais, nós estaremos demonstrando liderança na luta pelos direitos dos animais.

A cada vez que consumirmos produtos sem crueldade, como vegetarianos, ou ainda, como vegans, nós seremos líderes do movimento pelos direitos dos animais.

A cada vez que chamarmos a atenção para a liberação animal e falarmos contra a crueldade, seremos os líderes do movimento pelos direitos dos animais.
Como líderes de um movimento de justiça social que batalha pelos direitos daqueles que não podem falar por si mesmos, nós temos uma responsabilidade maior. Esse dever é especialmente desanimador quando nos lembramos que bilhões de indivíduos animais ainda são maltratados, explorados, negligenciados e mortos por membros da nossa espécie.

O Desafio da Liderança

Nós precisamos estimular uma liderança coletiva que englobe ações populares, nacionais e internacionais; uma liderança que utilize efetivamente as várias vantagens estratégicas de ação direta e de trabalho dentro do sistema político e legal; uma liderança que mobilize a opinião pública através do uso criativo da mídia de massas, das instituições acadêmicas, das igrejas, e de outras instituições públicas que constituem a sociedade.
Como liderança do movimento, no fim das contas, nós temos a responsabilidade pelo sucesso ou falha dos nossos esforços para libertar os animais da opressão humana. Isso é o porquê de ser tão importante que aprendamos a acomodar todas as diferenças que temos em nossa ideologias, estratégias e táticas.
O movimento de defesa dos direitos animais é uma comunidade diversa de indivíduos e organizações que compartilham a visão de uma sociedade livre de crueldade mas que partimos de diversas origens e por caminhos diferentes.O verdadeiro teste desse movimento é será fazermos com que a nossa diversidade seja a nossa força e não investirmos os sucessos vindouros em quaisquer ideologias, organizações ou indivíduos em particular.Celebremos cada um de nossos esforços individuais para libertarmo-nos de uma sociedade que é em maior parte cega para a exploração animal. Reconheçamos esses esforços para explicitar essa crueldade e construirmos um novo mundo no qual humanos e animais possam desfrutar plenamente."

16- VIOLÊNCIA MIMÉTICA, ADULTOS, CRIANÇAS, ANIMAIS

É de suma importância a abordagem que defensores dos animais procuram dar, hoje, à questão da violência contra animais, como definidora da matriz cognitiva e moral, que passa a ser ativada em todas as formas de relação de seres humanos com quaisquer outros animais, algo que desde Pitágoras, passando pelos judeus, cristãos, budistas, hinduístas, e, finalmente, pela investigação das ciências comportamentais, vem sendo confirmado como uma questão relevante no trato da origem, aprendizado e expressão de formas humanas violentas de tratar outros animais, humanos e não-humanos.
A questão, porém, não deve ser vista como problemática ou emblemática apenas para as crianças que praticam a violência, ou para aquelas que, na infância, tendo sofrido violência no âmbito da família, sofrem uma ruptura na sua própria personalidade moral, ao perderem o vínculo de confiança em relação a outros seres vivos em condições privilegiadas para uso da força ou para violentar os desprotegidos ou fragilizados.
Lembro, na oportunidade, depois de muito ter aprendido com o médico alemão Tilman FURNISS, que escreveu 'Abuso Sexual da Criança', que não apenas as crianças que praticam abuso contra os animais formam em si mesmas uma matriz cognitiva para depois praticarem abusos contra humanos. É bom que seja publicamente enfatizado, que toda criança, exposta como testemunha de atos de violência contra animais, torna-se aprendiz da violência, ainda que no momento da cena contra o animal essa criança não tenha tomado parte ativa no ato.
O ser humano aprende não apenas fazendo, mas, também, e principalmente, observando e imitando. Nesse sentido, tanto faz se a criança é vítima direta de violência praticada contra ela por humanos adultos, ou se ela é testemunha de violência de alguma forma de violência sistemática, praticada contra outros seres humanos e não-humanos à sua volta, com os quais ela se identifica em seus aspectos de fragilidade e impotência. Todas as crianças, submetidas diretamente a atos de violência, ou testemunhas impotentes de violência, tornam-se sabedoras desse fazer, e portadoras da matriz de violência que pode ser empregue alguma vez, contra humanos ou contra outros animais.
O mesmo deve ser levado em conta, quando se faz a campanha contra a violência infantil, quando as vítimas são animais de outras espécies. As crianças que praticam essa forma de violência já têm a matriz cognitiva e moral de inflição de sofrimento a outros seres vivos fragilizados e impotentes. Só por isso já merecem ser amparadas com um tratamento pedagógico e psicológico especial, para que abandonem o gozo de causar dor e sofrimento a seres em condições fragilizadas e vulneráveis a atos de hostilidades, praticados por outros em condições favoráveis ao uso da força e abuso de poder. Por outro lado, é bom que fique bem claro que os atos infantis de violência, contra outras crianças ou contra animais, revela que essa criança já testemunhou atos de violência, ou, possivelmente, já os sofreu no próprio corpo. Ao praticar a viôlência, uma criança "relata" para nós o que já sofreu ou o que já viu praticar em sua presença. Cuidar, pois, dessas crianças, inclui cuidar do entorno familiar, escolar e social no qual se forma sua matriz cognitiva moral.
Mas, ainda no que diz respeito ao universo infantil, devemos ter em conta que o fato de uma criança praticar abusos contra os animais, para além de fomentar nela mesma a matriz de hostilidade e agressividade contra seres fragilizados, se ela o faz na presença de outras crianças, e, se, por sua vez, essas crianças sentirem medo do que estão a presenciar, o efeito danoso de tais práticas não se faz sentir apenas nos animais. As crianças, aterrorizadas por presenciarem, impotentes, atos de crueldade contra outros bichos, têm abalada, em sua própria estrutura emocional e moral, a matriz cognitiva e ética da confiança nos demais seres vivos, o que as pode levar a concluir que a única maneira de escapar da violência e de não sofrer, é tornar-se violentas também. Nesse sentido, é bom que saibamos que a prática da violência, por parte de uma criança, pode revelar duas coisas: a primeira, que essa criança já sofreu ou já testemunhou a violência. A segunda, que essa criança já chegou a uma conclusão: a de que a prática de tais atos a protege, pois ao mostrar-se violenta, agressiva e bruta, assusta aqueles que eventualmente a poderiam violentar. Esses dois "recados" nos são dados na violência infantil contra os animais.
Por essa razão, o ato de testemunhar, impotente, atos de violência, derroca no sujeito moral, fragilizado por sua condição vulnerável, a estrutura moral necessária para a construção de uma personalidade confiante e desejosa de fazer o bem.
Por outro lado, e isso também deve ser levado em conta nas campanhas desencadeadas pelo fim da violência contra os animais, a violência praticada por adultos contra os animais, e falo aqui da violência institucionalizada do mercado de produção da carne, dos cosméticos, dos artefatos derivados de animais, do aprisionamento perpétuo de animais em circos e zoológicos, e de todas as demais formas de expropriação da liberdade e da dignidade dos animais, cultivadas em nossa sociedade sem o menor pudor, também formam, ou melhor, deformam a matriz cognitiva e moral que constitui o sujeito como sujeito ético, capaz de praticar o bem em favor daqueles que se encontram em condições menos favoráveis.
Assim, se expomos as crianças a toda sorte de violência que nós, adultos, praticamos, ou que permitimos que seja praticada sem nosso protesto, contra animais, crianças ou quaisquer outros sujeitos vivos em condições fragilizadas de existência, formamos nessas crianças a matriz cognitiva que as tornará insensíveis ao sofrimento alheio, e, na pior das hipóteses, aptas a o infligirem sem o menor pudor a outros seres vivos sensíveis.
Do mesmo modo como se cuida, hoje, após o livro de Tilman Furniss, de dar assistência moral adequada, não apenas às crianças que sofrem abuso sexual no âmbito da família, mas, também, a todas as outras crianças que, porventura, tenham sido testemunhas aterrorizadas da violência sistemática praticada contra aquelas, também devemos dar atenção especial, hoje, às crianças que sofrem, na condição de testemunhas impotentes, a experiência de presenciar a violência praticada por nossa sociedade contra todas as demais espécies animais, em todas as formas tradicionais, com as quais parece que nos temos acostumados.
Se quisermos eliminar a matriz cognitiva da violência, nas crianças e nos adultos, devemos dar apoio psicológico, pedagógico e ético a todos os seres humanos que, de forma direta ou indireta, têm presenciado práticas sistemáticas de violência, por parte de outros membros da nossa sociedade.
Conforme o afirmo acima, desde Pitágoras, passando pela tradição judaica mais antiga, sabe-se que nada que o ser humano pratica o deixa incólume. Nosso ser resulta da prática repetida de certas ações, como bem o aponta Aristóteles em seu livro Ética a Nicômaco, em outras palavras, nossa primeira natureza, a biológica, é transformada através do nosso próprio investimento, numa certa forma "específica" de ser humano, que se define pela repetição de ações boas e pela eliminação de atos que possam causar o mal. E, por vezes, essa forma de ser humano, que repetimos com nossas práticas, indicam de fato que ainda estamos bem longe de nos tornarmos naquilo que dizemos gostaríamos de ser. Ou será que o ideal de "humanos" que apregoamos para nos elevar sobre os demais seres vivos, comporta as práticas das quais francamente gostaríamos de livrar nossa natureza?

Sônia T. Felipe Núcleo de Ética Prática/UFSC
Florianópolis, SC - Brasil, 8/6/2004
(autorizado para divulgar na página do É O BICHO e de outros sites defensores dos animais)